Faleceu a 15 de março de 1998, fez agora 20 anos,
esse cultor da pluralidade de pensamento que deu pelo nome de Sebastião
Rodrigues Maia, ou Tim, para os amigos e inimigos, que, amiúde, parecia confundir.
Desenvolveu uma personalidade artística tão diferenciada das demais, aliás,
que, em 1995, lançou um álbum chamado “Nova Era Glacial” já o aquecimento
global tinha carta de condução. Maior ironia, hoje, só a de ter sido batizada,
há coisa de dois anos, uma ciclovia em sua homenagem entre Leblon e São Conrado.
Ou não: já teve duas derrocadas. Pois a verdade é que, aos 55 anos, Tim morreu
em virtude de “uma crise de hipertensão, uma embolia pulmonar e uma parada
cardiorrespiratória”, a que se sucedeu, com o cantor em coma induzido, “uma
hemorragia digestiva, seguida de uma infecção pulmonar e outra renal”, de
acordo com o que escreveu Nelson Motta em “Vale Tudo”. Isto é, como terá sido
dito acerca de Bix Beiderbecke, outra figura nada avessa à hipérbole, “morreu
de tudo”.
E muitos conhecidos seus reconheceriam Tim na frase com que a
romancista Dorothy Baker descreveu Bix em “Young Man with a Horn”, um livro inspirado
na vida do trompetista norte-americano: “É sobre o fosso que separa o talento
musical de um homem da capacidade que ele tem de encaixar esse talento na sua
própria vida.” Tim era mais pragmático, para não dizer científico. Como disse,
em 1985, na assinatura do contrato com a RCA: “O segredo do meu sucesso é o
equilíbrio. Metade das minhas músicas é esquenta-sovaco e metade é mela-cueca.”
É uma fórmula aforisticamente correta de descrever “Disco Club”, um dos seus
discos mais transcendentes, editado há 40 anos e de regresso aos escaparates,
dos quais andava desaparecido desde 2001, quando Charles Gavin o incluiu na
série “Arquivos”… Daqueles que se imagina Tim a levar consigo para uma ilha
deserta, caso lá estivesse Brooke Shields à sua espera, e não Tom Hanks, claro.
Porventura o ápice do disco sound, no
Brasil, é, também, o som de um país a passar da prateleira do congelador para a
do frigorífico a caminho da sua redemocratização e, logo depois, total
anarquização. Como cantou Caetano, só é preciso que “tudo saia/ como o som de
Tim Maia”.
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