21 de julho de 2018

Woody Shaw “Tokyo 1981” (Elemental, 2018)


Ele tinha visto tudo: “Casas catingosas, ratos e baratas, átrios fedorentos”, além, dizia, “das tensões mundo afora, daquela ridícula guerra no Vietname, da opressão dos pobres num país de tanta riqueza”. Por isso, conforme declarava a Nat Hentoff, autor das notas de apresentação de “Blackstone Legacy”, em 1971, Woody Shaw queria dedicar o seu primeiro disco “ao gueto” e à “libertação das pessoas de cor.” Teria muito que aguardar. E não faltará hoje quem considere que a carreira de Shaw foi essencialmente marcada pela espera – por aquilo, até, que o poeta Les Murray define como viver “à espera do passado”. Pois muito rapidamente passou Shaw da fase da neofilia à da nostalgia. Aliás, tudo se deu em meia-dúzia de anos, entre 1978 e 1985, quando após cinco eufóricos álbuns na Columbia se viu o brilhante trompetista aderir àquela espécie de saudade idealizada que distinguia a Paris Reunion Band (uma instável formação de expatriados europeus que nas suas fileiras contou com instrumentistas como Dizzy Reece, Nathan Davis, Johnny Griffin, Slide Hampton, Jimmy Woode, Kenny Drew ou Billy Brooks). 

Este “Tokyo 1981” – que tem, como bónus, precisamente um tema gravado com essa trupe em 1985 – está entre um ponto e outro, então, e prova-se um valiosíssimo instantâneo do extraordinário quinteto que gravou “United” (1981), “Lotus Flower” (1982) e “The Time is Right” (1983), constituído por Shaw, Steve Turre (trombone), Mulgrew Miller (piano), Stafford James (contrabaixo) e Tony Reedus (bateria). Um período em que o pensamento de Shaw passou, assim, para o papel numa “Down Beat” de 1983: “Uma das características da minha banda é tocarmos nos mais variados estilos. Tocamos na tradição do mainstream, na tradição da vanguarda e na tradição do bebop, que é a base para o jazz moderno. (…) Às vezes sinto que tenho de voltar atrás para encontrar coisas novas – ao que me foi deixado em herança.” Aqui, a peça-chave está na sua própria história: numa ‘Song of Songs’ (original de 1972) que expande até parecer passar a sua vida em revista. Falecido em 1989, nem sabia o pouco tempo que lhe restava.

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