Sabem
o que chamar a uma bela mulher agarrada ao braço de um trombonista? Uma
tatuagem. E a definição de otimista? Um trombonista com um agente. A diferença
entre um pugilista e um trombonista? Não é suposto um trombonista infligir dor.
Enfim, a coleção de anedotas do tipo é infinita e Peter McEachern já as ouviu a
todas. Algumas, até, da boca do seu falecido sogro, Norman Mailer (Peter é
casado com a artista plástica Danielle Mailer, filha do escritor), aquele que,
em 1957, pariu uma coisa tão estereotipadamente grotesca quanto esta: “O negro
não permitiu a si próprio as sofisticadas inibições da civilização e, como tal,
adotou a arte primitiva enquanto estratégia de sobrevivência, passando a viver
num enorme presente, entregando-se aos prazeres do corpo em detrimento dos da
mente e dando expressão através da música às qualidades da sua existência, à
sua raiva e às infinitas variações de alegria, luxúria e raiva do seu orgasmo,
pois o jazz é um orgasmo.” Credo.
Citação por citação, McEachern certamente preferiria
adotar a máxima repetida por Bob Brookmeyer a propósito dos membros de uma big band e reivindicar para si aquilo
que Mailer nem em teoria consentia aos outros: “Os saxofonistas engatavam as
miúdas todas porque estavam sentados na primeira fila, os trompetistas metiam o
dinheiro ao bolso porque dirigiam as operações desde a fila de trás e os
trombonistas ficavam no meio a desenvolver uma vida interior.” Aliás, McEachern
invoca de forma tão sensível a esfera paroquial em que o jazz foi inicialmente
batizado que ouvi-lo quase obriga a rever os livros de História – é como
comparar a maneira tradicional de retratar o Homem de Neandertal com a
descrição que dele faz Steven Mithen em “The Singing Neanderthals” (do seu modo
de comunicação “holístico, manipulativo, multimodal, musical e mimético”, ou HMMMMM).
Isto, porque McEachern descobriu recentemente possuir mais ADN em comum com o
Neandertal do que 93% da população testada, daí este seu título. Então, pega no
trombone, encosta o bocal aos lábios, faz hmmmmm e o jazz volta à posição
ereta. Esta, nem o Mailer.
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