Perante a descrença generalizada, presume-se, o que apetece
dizer é “Yes, Yes, Nonet” (1977), como fez Lee Konitz. Mas, aí, claro,
reconhecia-se uma autoridade praticamente apostólica. Konitz foi um dos
primeiros a pregar aquele evangelho segundo Miles Davis, Gerry Mulligan, Gil
Evans e John Lewis que começou a tomar forma há 70 anos – como é óbvio, mais do
que de sessões, fala-se dos sermões posteriormente compendiados em “Birth of
the Cool”, ainda e sempre o termo de comparação para qualquer formação
constituída por nove elementos, como a dos Angles 9. Não que Martin Küchen
(saxofones e composição), Johan Berthling (contrabaixo), Magnus Broo
(trompete), Eirik Hegdal (saxofone barítono), Goran Kajfes (corneta), Mattias
Stahl (vibrafone), Andreas Werliin (bateria), Alexander Zethson (piano) e Mats
Äleklint (trombone) se revelem particularmente instruídos nos princípios dessa
doutrina – aliás, o inverso parece ser verdadeiro (e Küchen é mais um papa-hóstias
do Mingus de “Blues & Roots”, de 1960).
Neste “Beyond Us” sobressaem práticas
demasiado profanas, padrões desmedidamente pérfidos – e a sua relação com
“Birth of the Cool” passa por lhe desapertar o espartilho, expor-lhe o tórax e
reanimá-lo com trinta compressões. Isto, porque Küchen não ignora as técnicas
de dominação presentes em todo e qualquer catecismo digno desse nome. E, tal
como Mingus, dir-se-ia mais interessado nas contínuas transgressões do
indivíduo (presta-se atenção ao título do disco e, já agora, ao antimarxismo de
um tema como ‘Against the Permanent Revolution’, e não há, ainda, como não
pensar em Foucault e no processo de subjetivação que enunciava, contrário ao
das lutas identitárias tão em voga). Noutro paralelo com mais um disco de nove
executantes, é quase o oposto de “Social Studies” (1981), de Carla Bley. E, em
tempos recentes, só “Impressions of PO Music” (2013), pelo Ken Vandermark’s
Topology Nonet, atingiu semelhante grau de transcendência – no caso, a opção
por um discurso cada vez mais livre e solto de si e visceralmente alinhado,
apenas, com a caótica dança do universo em seu redor.
Sem comentários:
Enviar um comentário