Terá sido o compositor Minoru Miki a
sugerir a Keiko Nosaka a criação de um koto
que melhor se adequasse à interpretação de música contemporânea. É o que relata
a investigadora Bonnie C. Wade em “Composing Japanese Musical Modernity”,
lembrando que, em 1969, por alturas do seu segundo recital a solo, Nosaka viria
a surpreender a plateia através de um instrumento mais dinâmico, com outra
extensão em termos de escala (possuía 21 cordas, por oposição às canónicas 13
ou 17) e maior flexibilidade no que diz respeito à afinação. Expandiu-o em
1991, para as 25 cordas, estreando peças de Takahashi ou Ifukube, pelas quais,
de modo paradoxal, pareciam duplicar-se os silêncios, e é, desde esse ano,
professora de Karin Nakagawa. Serve o preâmbulo para que se desenvolva, então,
alguma resistência face ao fetichismo com que a ECM descreve a iniciação de “Anders
e Lena nos mistérios da tradição milenar do koto”.
Até porque “Trees of Light” é imune a qualquer categoria provisória e ignora o
anonimato. Aliás, sabe ao que vem quem conhece o imaculado percurso da cantora
sueca: ouve-se, pelo disco, o murmúrio de madeiras escuras (Willemark toca ainda
rabeca e violeta), entoam-se baladas de gratidão pela generosidade de noites
auríferas, sagram-se aparições nos musgos e nos halos das florestas, cruzam-se constelações
de lúcidas sílabas geladas com aquelas enlouquecidas e ardentes onomatopeias redimidas
ao aboio, aqui quase totalmente femininas, pontuadas pelo sangue. E enquanto
dos dedos da japonesa florescem presságios, detêm-se os do contrabaixista pela
caligrafia dos astros, como é seu costume desde os tempos em que tocava nos
grupos de Bobo Stenson ou Charles Lloyd. Também “The Half-Finished Heaven” traz
um instrumento da família da cítara modificado, no caso o finlandês kantele, de 39 cordas, e prossegue
igualmente por via do paganismo crepuscular. Com Langeland estão o violetista
Lars Anders Tomter, o saxofonista Trygve Seim, o percussionista Markku
Ounaskari e as palavras de um poeta, Tomas Tranströmer, recentemente falecido,
que se deixou um dia seduzir pelo amarelo da Carris.
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