Horacio Lavandera (p)
Nem só o título deve este disco a
Debussy. Apesar de “Imágenes”, propriamente dita, assumir contornos de noturno.
Seja como for, como memórias que a certa hora se acendem, encontra-se o fulgor
do impressionismo em muitas destas peças para piano solo (nomeadamente daquele
que, através da habanera, tingiu a
cortina que se fechou sobre o século XIX com as cores da nostalgia e do
exotismo). Atente-se às suas designações: “Imágenes” (2001), “Los Recuerdos”
(1998), “Montañas” (1960), “Romance” (1994), “La Casa 13” (2002), “Claveles”
(1984), “Moto Perpetuo” (2000), “Media Noche” (1990), “Vals Para Verenna”
(1987) e “Donde Nací” (1990). Parte – ou, quiçá, a totalidade, nunca é óbvio –
de uma obra com presença constante na vida de Dino Saluzzi, mas que até agora
se mantinha secreta, pois, das suas colaborações com Gato Barbieri ou Jorge
López Ruiz até às gravações para a ECM com o grupo familiar ou àquelas em que
recorreu à prata da casa da editora (Haden, Favre, Mikkelborg, Rava, Lechner),
jamais o seu nome surgiu divorciado do bandoneón,
pese embora os dotes de multi-instrumentista que cedo revelou em “Kultrum”
(1983). E o que se pode dizer é que também com o piano em mente permanece o
argentino adstrito à subtileza. Ainda que, do mesmo modo que sempre permitiu
que o ar no fole do seu instrumento soasse contaminado pelo folclore andino, algo
do que, aqui, mostra, parece vir acima de tudo comentar a própria tradição
pianística. Mas, claro, por vezes constata-se a evidência que nunca houve
música, assim, a conduzir o piano àqueles verdejantes planaltos bordejados por neves
e nuvens.
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