Num tempo de excessos, pode
dizer-se que lhes sobrava em ambição o que lhes faltava em meios. Pense-se em “The
World’s Smallest Big Band”, de Eddie Hardin e Pete York, em “Attila”, de Billy
Joel e Jon Small, ou neste “The Reality”: os três lançados em 1970, são irredutíveis
álbuns de órgão Hammond e bateria, nada mais, em que, de facto, pouco há a suprir.
Se perdoam a intromissão da fantasia, são como Gimli, de “O Senhor dos Anéis”:
sem consciência das suas limitações. Por sinal, em “Sagan om ringen”, quem nesse
ano se dedicou a Tolkien foi Bo Hansson, metade de outro duo de Hammond e
bateria (Hansson & Karlsson) com o qual logo este se comparou: afinal, procediam
exatamente do mesmo sítio. Conta agora Bruce Powell: “Regressei de um
compromisso em Tóquio e segui para Las Vegas. Apresentaram-me Ernie Englund, a
precisar de um organista, que me contratou para tocar em Estocolmo, no Grand
Hôtel, em dezembro de 1969.” Pouco depois, determinado a fazer pela vida na
capital sueca, conheceu Vlady (Wladyslaw Jagiello, outro expatriado, com provas
dadas na cena jazz de Varsóvia desde a década de 50) e começaram a atuar em
restaurantes. Rune Wallebom, um dos proprietários da Svensk American, propôs-se
a gravá-los e guiou-os a estúdio. Prossegue Powell: “Certo dia aparece o Rune, muito
triste, dizendo-me que se estava a separar e que ia dissolver a editora. O LP tinha
acabado de sair e já não foi a lado nenhum. Parti para os EUA em setembro de
1970, perdi contacto com o Vlady e nunca mais soube do Rune, nem do disco.”
Javi Bayo, organizador desta reedição, tomou-lhe as declarações e avança que Vlady morreu em 2009, que Rune também já não está entre nós e que Bruce é hoje professor de música em Milwaukee, não se lhe conhecendo obra publicada. No meio disto tudo, e como seria de esperar, a prensagem original do insólito LP tornou-se peça de coleção: foi surgindo em leilões a 150 euros e neste momento está à venda um exemplar por 842. Ouvindo-o, por entre aquele tipo de salmódicas ruminações ao teclado que trazem à memória Jimmy Smith (embora fosse provável que Powell se interessasse mais por Jack McDuff ou Jimmy McGriff), dá-se por uma imoderada dose de fórmulas em saudação da Era de Aquário, que, quiçá em consequência de uma dicção que, como a de Hendrix, parece alimentada a contrariedades, remete mais para um estado de paranoia do que propriamente de iluminação – isso, e a última frase que nele se escuta (“This is only the beginning”), só lhe confere mais dramatismo.
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