No virar
do século muito se falava de “The Last Word”, uma daquelas retrospetivas com
pés e cabeça que raramente passam da fase de projeto. Pelo que era dado a
entender, tratava-se da integral de Miles na Warner, mas a notícia nem era essa.
Na antologia, a acompanhar gravações acerca das quais nada tinha ficado por
saber encontrar-se-iam registos a respeito dos quais só se especulava. Viriam a
lume as sessões com a Rubber Band, além de uma parceria com Prince que possuía como
base temas compostos com o esmero concetual de um pedófilo (‘Can I Play With U’,
‘Jailbait’, etc) ou o célebre concerto de La Villette, o reencontro de julho de
1991 com McLaughlin, Corea, Hancock ou Shorter. Até data de lançamento se
definiu: setembro de 2001, dez anos após a morte do seu dedicatário. Mas tão
portentoso programa não chegou a ver a luz do dia, nem é agora que deixa de permanecer
inédito. Sem tirar nem pôr, isto é, tal como originalmente vieram ao mundo, esta
“The Last Word” reúne “Tutu”, “Amandla”, “Doo-Bop”, “Music from Siesta”,
“Dingo”, “Live at Montreux”, “Live Around the World” e “Live at Nice Festival”
(excertos de uma atuação de 1986 saídos a reboque da edição deluxe de “Tutu”, de 2011). Ou seja,
comparada com a aparentada “1986-1991: The Warner Years” dá-se-lhe
inclusivamente pela falta do volume “Rarities & Studio Guest Appearances”,
por exemplo, que coligia colaborações de Miles com Toto, Shirley Horn, Chaka
Khan ou Cameo. Fica, então, a memória do período mais problemático da sua carreira,
em que a sua trompete faz de qualquer um destes álbuns um disco de jazz tanto
quanto a salada mista transforma o McDonald’s num restaurante vegetariano.
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