22 de janeiro de 2016

Enrico Pieranunzi “Proximity” (Cam Jazz, 2015)



Há inventários fonográficos que se revelam perfeitamente paradigmáticos. No caso de Pieranunzi pode até concluir-se que só o estabelecimento da Cam Jazz, na qual entretanto gravou vinte discos, possibilitou uma leitura estruturada da sua produção, facilitou o reconhecimento de traços comuns na sua escrita, proporcionou a identificação dos modelos a partir dos quais as suas improvisações derivam (quase sempre uma ação secundária cuja apreciação da principal em tudo depende) e conferiu um parâmetro narrativo ao seu entendimento das relações humanas (pense-se na longevidade do trio que constituiu com Marc Johnson e Joey Baron). Parece estar a discutir-se literatura mais do que música. Também as notas de apresentação de “Proximity”, redigidas por Brian Morton, seguem nessa bitola, com o crítico a registar “o grande contributo de Pieranunzi ao longo dos anos”: resumindo, a consciência de que só quem vive efetivamente a história se consegue em absoluto libertar dos condicionamentos que ela impõe. O que deverá explicar a contínua revisão que o pianista promove das suas próprias peças: aqui, ‘Simul’ provém de “Current Conditions” (2003), ‘Sundays’ de “Ballads” (2006), ‘Five Plus Five’ e ‘No-Nonsense’ de “Dream Dance” (2009) e ‘Within the House of Night’ de “Permutation” (2012), e a impressão que fica é a do autor de uma peça de teatro que se apercebe, com o passar do tempo, que os seus textos se vão apegando às personalidades dos que a palco uma e outra vez os conduzem e que só ficam melhores por isso. Trata-se de uma dramatização que circula em duas vias, pois também Ralph Alessi, Donny McCaslin e Matt Penman – note-se a ausência de baterista – se entregam a estes temas de um lirismo praticamente mediterrânico confessando o que de outro modo talvez nunca viessem a dizer. É mais uma forma de falar de proximidade.

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