Há
inventários fonográficos que se revelam perfeitamente paradigmáticos. No caso
de Pieranunzi pode até concluir-se que só o estabelecimento da Cam Jazz, na
qual entretanto gravou vinte discos, possibilitou uma leitura estruturada da
sua produção, facilitou o reconhecimento de traços comuns na sua escrita, proporcionou
a identificação dos modelos a partir dos quais as suas improvisações derivam (quase
sempre uma ação secundária cuja apreciação da principal em tudo depende) e conferiu
um parâmetro narrativo ao seu entendimento das relações humanas (pense-se na
longevidade do trio que constituiu com Marc Johnson e Joey Baron). Parece estar
a discutir-se literatura mais do que música. Também as notas de apresentação de
“Proximity”, redigidas por Brian Morton, seguem nessa bitola, com o crítico a registar
“o grande contributo de Pieranunzi ao longo dos anos”: resumindo, a consciência
de que só quem vive efetivamente a história se consegue em absoluto libertar dos
condicionamentos que ela impõe. O que deverá explicar a contínua revisão que o
pianista promove das suas próprias peças: aqui, ‘Simul’ provém de “Current
Conditions” (2003), ‘Sundays’ de “Ballads” (2006), ‘Five Plus Five’ e
‘No-Nonsense’ de “Dream Dance” (2009) e ‘Within the House of Night’ de
“Permutation” (2012), e a impressão que fica é a do autor de uma peça de teatro
que se apercebe, com o passar do tempo, que os seus textos se vão apegando às
personalidades dos que a palco uma e outra vez os conduzem e que só ficam
melhores por isso. Trata-se de uma dramatização que circula em duas vias, pois
também Ralph Alessi, Donny McCaslin e Matt Penman – note-se a ausência de baterista – se entregam a estes temas de um lirismo praticamente mediterrânico confessando
o que de outro modo talvez nunca viessem a dizer. É mais uma forma de falar de proximidade.
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