Em 2000,
numa entrevista para a publicação “50 Miles of Elbow Room”, o
multi-instrumentista Cooper-Moore passeava pela emoção contida da
reminiscência: “Fui em busca de um nome para a banda no dicionário Webster’s.
Não fui além do A: Apogeu.” E, sim, presume-se que se tenha deixado seduzir pelo
que em astronomia indica o ponto na órbita terrestre em que um astro se
encontra mais afastado da Terra. Afinal, estávamos no início dos anos 70, pouco
depois de muita gente ter dado conta da importância da verticalidade na
evolução humana, ainda que não lhe sobrassem motivos para andar pela rua de
cabeça erguida. Aliás, sempre se disse que o free jazz era, também, uma forma de alguém representar em palco a
remoção das toneladas de raiva, receio e rancor que lhe pesavam no peito, de
arrojar o ranço de tantos soluços, um gesto que transformava o ato de respirar
num feito ideológico. E porque não? David S. Ware – que, no contexto da ação
deste trio com Cooper-Moore e Marc Edwards, nesse abril de 1977 pela primeira
vez foi a estúdio com intenção de revelar ao mundo que algo de novo começava a
aparecer no horizonte – sempre aliou um tom áspero e asfixiante a uma prática devocional
devastadora. Ninguém imagina como eram, então, os seus dias, tal como poucos
sabem verdadeiramente o que viveu desde que passou a depender da diálise
peritoneal até à sua morte, com areia negra a encher-lhe as veias, em 2012. Mas
do seu íntimo nunca se apagou a esperança. Esta reedição dilatada – com
lançamento parcial na Hat Hut, em 1979 – é a assunção de uma responsabilidade
histórica, quase incongruente com a experiência desse que nem com trinta anos
feitos, e muito antes de lá chegar, estava já no apogeu.
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