5 de março de 2016

David S. Ware/Apogee “Birth of a Being (Expanded)” (Aum Fidelity, 2015)



Em 2000, numa entrevista para a publicação “50 Miles of Elbow Room”, o multi-instrumentista Cooper-Moore passeava pela emoção contida da reminiscência: “Fui em busca de um nome para a banda no dicionário Webster’s. Não fui além do A: Apogeu.” E, sim, presume-se que se tenha deixado seduzir pelo que em astronomia indica o ponto na órbita terrestre em que um astro se encontra mais afastado da Terra. Afinal, estávamos no início dos anos 70, pouco depois de muita gente ter dado conta da importância da verticalidade na evolução humana, ainda que não lhe sobrassem motivos para andar pela rua de cabeça erguida. Aliás, sempre se disse que o free jazz era, também, uma forma de alguém representar em palco a remoção das toneladas de raiva, receio e rancor que lhe pesavam no peito, de arrojar o ranço de tantos soluços, um gesto que transformava o ato de respirar num feito ideológico. E porque não? David S. Ware – que, no contexto da ação deste trio com Cooper-Moore e Marc Edwards, nesse abril de 1977 pela primeira vez foi a estúdio com intenção de revelar ao mundo que algo de novo começava a aparecer no horizonte – sempre aliou um tom áspero e asfixiante a uma prática devocional devastadora. Ninguém imagina como eram, então, os seus dias, tal como poucos sabem verdadeiramente o que viveu desde que passou a depender da diálise peritoneal até à sua morte, com areia negra a encher-lhe as veias, em 2012. Mas do seu íntimo nunca se apagou a esperança. Esta reedição dilatada – com lançamento parcial na Hat Hut, em 1979 – é a assunção de uma responsabilidade histórica, quase incongruente com a experiência desse que nem com trinta anos feitos, e muito antes de lá chegar, estava já no apogeu.

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