O título deriva efetivamente de “Bury My Heart at
Wounded Knee: An Indian History of the American West”, de Dee Brown, livro caro
à contracultura dos anos 70. Para quem se lembra,
a sua popularidade terá tido, até, influência na decisão do Movimento dos
Indígenas Norte-Americanos em ocupar a cidade de Wounded Knee, em 1973. Com
meia dúzia de anos, há um impressionante documentário de Stanley Nelson sobre o
assunto, cause célèbre devidamente
acompanhada no mundo da música: todos então gravados, pense-se em “Bury My Heart
at Wounded Knee”, dos alemães Gita, em “Song for Wounded Knee”, de Richard
Davis, e em “Witchi-Tai-To”, de Jan Garbarek. Claro que este último reclamava a
influência de Jim Pepper, nome incontornável sempre que o assunto é a abertura do
jazz à música dos povos nativos da América do Norte, história que vai do
‘Cherokee’, que Charlie Parker tanto tocava, até a “Indian Tapes”, de Andrea
Centazzo, de “Symbols of Hopi”, de Jill McManus, a “Chinampas”, de Cecil
Taylor, ou de “Sacred Common Ground”, de Don Pullen”, a “The Peach Orchard”, de
William Parker. À lista adiciona-se agora um ilustre descendente. “Bury My
Heart” traz à memória o genocídio ameríndio nos EUA, quando “pairava no ar um
sentimento de ruína e destruição”, como escreveu Tocqueville. A evocação de uma
gente de rosto contrito e gestos indecifráveis, de olhar fértil e aspeto de
quem está há décadas sem dormir. A bateria de Scott Clark fala em código, como num
pow-wow, mas permanece imune à
nostalgia. Talvez porque, assim, não encontre tantos entraves ao que pretende
recordar: um dos atos cruciais da infâmia.
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