Confundem-se com artigos de luxo
mas são relativamente modestas, ao contrário dos multívolos colecionadores que
as cobiçam. Até porque cada CD que nelas se inclui custa menos que um download. E ainda que nunca fique claro porque
proliferam desta forma (e algumas só ganharão razão de ser no dia em que se
descobrir que os diretores das grandes editoras são partidários do movimento
das casas pequenas), não deixa de ser absolutamente lógico e só aparentemente paradoxal que estas mastodônticas antologias se
tenham tornado uma constante num mercado fonográfico em consecutivas
contrações. Entre as recentes destacam-se o segundo volume de “Leonard
Bernstein Collection” (64 CD) e as gravações completas de Alfred Brendel (114).
Mas só no último ano, ano e meio, na Universal saíram outras vinte dignas de nota:
os “Stereo Years” da Philips, os “Mono Years” da Decca, uma “Schubert Edition”,
uma “Sibelius Edition”, uma “Complete Edition” de Stravinsky ou um par de
“Complete Works” (de Bartók e Scriabin) e, depois, em volumetria variável, integrais
de Boulez, Dutoit, Fricsay, Maazel, Argerich, Gilels, Kovacevich, Lupu,
Perlman, Pogorelich, Richter, Beaux Arts Trio ou Quartetto Italiano. Dediquem-lhes
duas horas por dia que vão precisar de doze meses para as ouvir. Agora chega “The
Mono Era” e dir-se-ia, mais uma vez, que o meio é a mensagem. Só que nem a
euforia que adveio do formato de longa duração permitiu que se esquecessem os
horrores da Segunda Guerra Mundial. É nisso que se pensa quando se escuta Elly
Ney ou Ludwig Hoelscher a darem o melhor de si logo após o seu país lhes ter
exigido o pior. Ou quando se testemunha a 10ª de Shostakovich dirigida por
Ancerl. Ou a ação de Furtwängler e Jochum. É uma impressão momentânea, pois
logo despontam Richter e Kempff a tocar Schumann, Haskil a tocar Mozart, Haas a
tocar Ravel ou Cherkassky a tocar Tchaikovsky, e se relembra que há feridas que
só a música fica próxima de cicatrizar.
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