23 de abril de 2016

“Deutsche Grammophon: The Mono Era 1948-1957” (Deutsche Grammophon, 2016)



Confundem-se com artigos de luxo mas são relativamente modestas, ao contrário dos multívolos colecionadores que as cobiçam. Até porque cada CD que nelas se inclui custa menos que um download. E ainda que nunca fique claro porque proliferam desta forma (e algumas só ganharão razão de ser no dia em que se descobrir que os diretores das grandes editoras são partidários do movimento das casas pequenas), não deixa de ser absolutamente lógico e só aparentemente paradoxal que estas mastodônticas antologias se tenham tornado uma constante num mercado fonográfico em consecutivas contrações. Entre as recentes destacam-se o segundo volume de “Leonard Bernstein Collection” (64 CD) e as gravações completas de Alfred Brendel (114). Mas só no último ano, ano e meio, na Universal saíram outras vinte dignas de nota: os “Stereo Years” da Philips, os “Mono Years” da Decca, uma “Schubert Edition”, uma “Sibelius Edition”, uma “Complete Edition” de Stravinsky ou um par de “Complete Works” (de Bartók e Scriabin) e, depois, em volumetria variável, integrais de Boulez, Dutoit, Fricsay, Maazel, Argerich, Gilels, Kovacevich, Lupu, Perlman, Pogorelich, Richter, Beaux Arts Trio ou Quartetto Italiano. Dediquem-lhes duas horas por dia que vão precisar de doze meses para as ouvir. Agora chega “The Mono Era” e dir-se-ia, mais uma vez, que o meio é a mensagem. Só que nem a euforia que adveio do formato de longa duração permitiu que se esquecessem os horrores da Segunda Guerra Mundial. É nisso que se pensa quando se escuta Elly Ney ou Ludwig Hoelscher a darem o melhor de si logo após o seu país lhes ter exigido o pior. Ou quando se testemunha a 10ª de Shostakovich dirigida por Ancerl. Ou a ação de Furtwängler e Jochum. É uma impressão momentânea, pois logo despontam Richter e Kempff a tocar Schumann, Haskil a tocar Mozart, Haas a tocar Ravel ou Cherkassky a tocar Tchaikovsky, e se relembra que há feridas que só a música fica próxima de cicatrizar.

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