Em junho de 1973, nos EUA, falava-se necessariamente
do escândalo de Watergate. Outro, entre aquela singular conjunção de fatores
que mais parecia um vestígio de uma realidade paralela qualquer que se tivesse subitamente
apoderado do quotidiano do país: prisioneiros de guerra voltavam do Vietname
como fantasmas; descendentes dos índios, não menos espectrais, terminavam a
ocupação da cidade de Wounded Knee; Brejnev tinha tempo de antena nas televisões, provisoriamente levantando a ‘cortina de
ferro’; no dia 30, durante sete longos
minutos, um eclipse solar total sintonizava o cidadão comum com os fenómenos
astronómicos; Bowie voltava do espaço e os Pink Floyd cantavam sobre o lado
oculto da lua. Por seu turno, fecundado por uma ciência final, Wadada Leo Smith
publicava um pequeno tratado acerca do que efetivamente distinguia a “música
criativa”. Num dos seus excertos mais poéticos escrevia a respeito do “prodígio
e esplendor da natureza – dos sons dos grilos, dos pássaros, do abraço
espiralado do vento, do flutuar das ondas e do estrondo que fazem quando contra
as rochas quebram.”
Referia-se à totalidade de cada instante na ótica do improvisador, àquilo que cada um tem de tão essencialmente seu que o leva a inscrever-se numa espécie de destino elementar, “nos princípios universais de todos quando criados a partir dos poderes cósmicos de todos.” São considerações que o alinham com o que a pintora indiana Nasreen Mohamedi confessava às páginas do seu diário. É dela – no contexto de uma exposição patente no Met Breuer, onde Vijay Iyer possui uma residência artística – que provêm títulos e inspiração para grande parte dos temas de um disco que, à exceção de excrescências eletrónicas, tem muito daquilo que se esperava: de andamentos com a lentidão do Tai chi a lutas intestinas entre trompete e piano, de tonalidades densas a diluídas aguarelas que lavam o jazz por dentro. Como de costume, Wadada explora aqui o espaço vazio como quem investiga corpos celestes. Já Vijay o envolve de modo placentário até se perceber que o protege tanto quanto o controla.
Referia-se à totalidade de cada instante na ótica do improvisador, àquilo que cada um tem de tão essencialmente seu que o leva a inscrever-se numa espécie de destino elementar, “nos princípios universais de todos quando criados a partir dos poderes cósmicos de todos.” São considerações que o alinham com o que a pintora indiana Nasreen Mohamedi confessava às páginas do seu diário. É dela – no contexto de uma exposição patente no Met Breuer, onde Vijay Iyer possui uma residência artística – que provêm títulos e inspiração para grande parte dos temas de um disco que, à exceção de excrescências eletrónicas, tem muito daquilo que se esperava: de andamentos com a lentidão do Tai chi a lutas intestinas entre trompete e piano, de tonalidades densas a diluídas aguarelas que lavam o jazz por dentro. Como de costume, Wadada explora aqui o espaço vazio como quem investiga corpos celestes. Já Vijay o envolve de modo placentário até se perceber que o protege tanto quanto o controla.
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