Antes
de mais, a publicidade enganosa: ainda não é desta que se descongestionam por
completo as vias respiratórias destes registos, apesar dos pulmões de Ella surgirem,
aqui, relativamente libertos de asma. Ou seja, os solos de saxofone de Charlie
Parker, Lester Young e Flip Phillips permanecem algo abafados nas respetivas
traqueias, o sopro de Roy Eldridge continua vagamente epiglótico e as batidas
de Buddy Rich um tanto bronquíticas, para não falar, já, das muitas crepitações
saídas do piano de Hank Jones e do contrabaixo de Ray Brown. Por isso, de nada
serve o anúncio de novas remasterizações. Por outro lado, é inequívoco que,
sim, tal como apregoa a compilação, esta é a primeira vez que efetivamente se
reúnem num único CD, e no contexto dos concertos organizados sob a égide do “Jazz
at the Philharmonic”, as gravações de Ella Fitzgerald que, entre 1983 e 1998, a
Verve espostejou por “The Ella Fitzgerald Set” (modelo da presente edição) e
“First Lady of Song” ou pelas monumentais “Bird: The Complete Charlie Parker on
Verve” e “The Complete Jazz at the Philharmonic on Verve”. Seria mais
interessante falar-se de inéditos, mas, afinal, este lançamento é feito ao
abrigo de uma série de iniciativas editoriais que assinalam os 60 anos da
chancela fundada por Norman Granz e a tendência será, precisamente, a de fazer
chegar ao mercado títulos consagrados. As apresentações agora reunidas procedem
de três datas: setembro de 1949 (o grosso dos temas, captado durante uma
atuação no Carnegie Hall), setembro de 1953 (em que se destaca ‘Bill’, de P. G.
Wodehouse e Jerome Kern, praticamente desconhecido na voz de Ella) e setembro
de 1954. Ou seja, de uma altura anterior àquela em que, através de “Ella
Fitzgerald Sings the Cole Porter Song Book”, a Verve conseguiu realmente tirar
os pés do chão. Cá está aquela forma de cantar que enche de hélio cada sílaba e
em que o scat se revela a brilhante
estratégia de evasão de uma intérprete que se recusa a descer ao nível da sua
audiência.
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