14 de maio de 2016

Roy Nathanson “Nearness and You” (Clean Feed, 2016)



Tem sido um quebra-cabeças, a música de Roy Nathanson ao longo dos últimos 30 anos. Se fosse um quadro, e estivesse pendurada numa galeria, teríamos muito provavelmente de inclinar o pescoço para um lado, e depois para o outro, a fim de melhor a entender. Nessa medida, lembra a obra da artista plástica Jill Nathanson, irmã do saxofonista – é dela a capa de “Implement Yourself”, dos Jazz Passengers, a banda que Roy fundou em meados dos anos 80, com Curtis Fowlkes, e pela qual foram passando vocalistas como Debbie Harry, Elvis Costello, Mavis Staples ou Jimmy Scott. Aliás, numa sessão de terapia, seria até interessante saber como reagiria ele, que é igualmente compositor, ator, poeta e professor, a uma frase que Julie Salamon escreveu acerca de Jill, recorrendo a um clichê da psicologia: “Durante muito tempo tentou conhecer o incognoscível, como, por exemplo, a medida exata do sofrimento que conduziu a sua mãe ao suicídio. O seu esforço ia no sentido de tornar o universo mais acessível, por isso reduziu a escala da sua produção, de telas grandes e espalhafatosas até peças mais pequenas de cores estranhas e variegadas que a faziam sentir-se bem consigo mesma e que a levaram a acercar-se de qualquer coisa parecida com a esperança.” Era uma forma de intimidade, aquilo de que porventura estaria à procura e é disso que vem Roy agora falar em “Nearness and You”, também ele colocando de lado o todo para mais efetivamente se concentrar na parte.

O mote, como é óbvio, tem-no em ‘The Nearness of You’, canção imortal de Hoagy Carmichael e Ned Washington a que tantos deram voz e que visita ao lado de Fowlkes, Arturo O’Farrill, Myra Melford ou Marc Ribot, duetos registados em concerto, no Stone, em junho de 2015. O seu modo de proceder recorda interrogações que, precisamente a partir de um dos discos que Nathanson gravou com Anthony Coleman, pianista que prontamente convocou para a semana de atuações aqui documentada, levantou John Szwed, em “Crossovers”: “Como tocar jazz, quando a estrutura social que lhe é subjacente já quase não existe ainda que se mantenha tão intimidante a sua estética? Como interpretar melodias que evocam uma época capaz de gerar ressentimentos? Uma das respostas da dupla é a de se tornar merecedora destes temas graças ao trabalho de recomposição.” Ou seja, Roy (que, por sinal, faz 65 anos na terça-feira) nunca deixa de conjugar as suas múltiplas pertenças pela ocultação das suas muitas insubmissões, inconformidades e contradições. Neste fascinante registo cabem as suas dúvidas e descobertas, aquisições e alienações. Cabem as memórias de uma vida.

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