Dir-se-ia
praticamente obsessivo, o prazer que Pedro Coquenão (luso-angolano que, de modo
pouco menos de impúdico, assina com um nom
de plume a que não deixa jamais de fazer jus) extrai desta singular
matéria-prima subitamente colocada à sua disposição. O que, logo num momento
inceptivo, justifica que “Konono Nº1 Meets Batida” se assemelhe já ao sucedâneo
de remisturas que no seu horizonte mal se vislumbra. Ou seja, possui muito de
redundante, este seu cruzamento, em Lisboa, com a presente encarnação do
conjunto congolês (Augustin Mawangu, Pauline Nsiala, Menga Waku, Vincent Visi e
Jacques Mbiyavanga). O que não se lhe leva a mal. Afinal, não terá sido o
primeiro a deslumbrar-se no contacto direto com uma das raras expressões musicais
do mundo acerca das quais nada mais se sabe do que aquilo que os seus
praticantes permitem. Além de que é óbvio que colhe agora um tipo de consolo
que a sua prática a sós não poderia prover. E, no entanto, nos segundos
iniciais, com aqueles sons magnéticos extraídos às ferrugens dos likembes, com o progressivo ziziar de
insetos arrancado às entranhas da floresta tropical e com a evocação subtil do
típico encantamento canoro que, aí, nas copas das árvores, ao anoitecer se
extravia, este disco aponta para um diálogo de atavio diverso. Mas é então que,
numa relação pautada pela parceria e depois pela dominação, o produtor se deixa
ir pela ladeira do seu instinto abaixo e cede ao oportunismo que há no ritmo,
pronunciando-o com todos os acentos possíveis e imaginários, incapaz de
domesticar as previsíveis epifanias que o impulso solta, estendendo construções
que ultrapassam rapidamente o prazo de validade para que haviam sido
programadas. E aqueles Konono Nº1 da crueza polifónica conduzida ao êxtase, da
superação de códigos estéticos padronizados, dos processos mais radicais,
simplesmente, evaporam-se. E não se chega a entender se desaparecem porque se
querem perder ou se estão em busca de alguma coisa que não descobrem ou se
permanecem sem nada procurar. Certamente que Coquenão sonda a sua própria
consciência a respeito da forma como se geram, avançam, chocam e até convergem
os caminhos da vida. Pouca dessa curiosidade vazou para aqui.
Sem comentários:
Enviar um comentário