Há uma extensa entrevista a Ellery
Eskelin na edição de junho da publicação online
“Point of Departure” cujo derrame alcança “Willisau Trio – Live”. Vale a pena
lê-la, até porque o saxofonista nunca deixa que a desordem domine o seu
discurso. Num dado momento, vindo ao caso o alfabeto obscuro – os standards – que adquiriu na infância,
recorda que cedo notou a influência da mãe, a organista Bobbie Lee: “É um fator
que esteve sempre presente na minha maneira de tocar mas que a maior parte das
vezes coloquei em contraste ou colisão com outros elementos”, diz. Mas já em
maio de 2010, no seu blog, refletia
sobre o assunto: “Eu sabia que a minha mãe tinha começado por tocar em igrejas
pentecostais. Mas quando nasci já ela tinha feito a transição para a noite.” E
a tomada de consciência de Eskelin era a de que, nessa passagem do mundo
sagrado para o profano, a sua mãe tinha transportado consigo a premissa básica
da música evangélica: a de que cada nota tem de atingir o espírito de quem a
ouve. Isto é, mais do que de processo ou pose, fala-se de propósito. Talvez
seja a isso que se refere quando, na conversa com o “Point of Departure”,
conclui que, por vezes, “ao tocar-se uma canção, mais vale deixá-la ir sozinha”.
É de certo modo o que esta gravação de um concerto de agosto passado no festival
de jazz de Willisau denota, com a autoridade dos improvisadores permanentemente
posta em causa pela demencial comoção que despertam melodias como ‘My
Melancholy Baby’ – ainda assim, sujeita a mais permutações do que as que Fritz
Lang lhe consagrou em “Scarlet Street”, ou, em português, “Almas Perversas”,
uma boa descrição para o que aqui se passa –, ‘Blue and Sentimental’ e ‘East of
the Sun’. Consigo estavam Gerry Hemingway, que, na bateria, parece ter com o
ritmo a relação que Escher manteve com a perspetiva, e Gary Versace, que, no
monstruoso órgão Hammond B-3, tal como Carol, da adaptação cinematográfica de
“O Sítio das Coisas Selvagens”, não é só fúria, frustração e rudes roncos.
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