Golfam
Khayam & Mona Matbou Riahi “Narrante” (ECM, 2016)
Para
quem sente o verão como um exílio, ou como a expressão dilatada daquele
silêncio que vai do encontro ao desencontro, as iranianas Golfam Khayam
(guitarrista) e Mona Matbou Riahi (clarinetista) propõem uma versão decantada e
encantada de melodias, práticas, ideias e saudades persas, presas a modalismos e
memórias tão frágeis e delicadas que se diriam ficar desfeitas à primeira
oscilação do ar.
Rafael Cortijo “The Ansonia Years: 1969-1971” (Vampisoul,
2016)
É
o melhor de três discos: “Ritmos y cantos callejeros”, “Noche de temporal” e
“Volumen 2”, gravados numa Nova Iorque em que se ignoravam ainda os sintomas da
salsa. Mas Cortijo, que mantinha em Porto Rico o ouvido colado ao chão, sabia
já o que só nas esquinas do Bronx se adivinhava: que essa febre que devoraria
as Caraíbas e o mundo dependeria do vernáculo. Aqui, reconduz bomba e plena à matriz.
RED trio & John Butcher “Summer Skyshift” (Clean
Feed, 2016)
Possui
um começo dramático, “Summer Skyshift”, com Rodrigo Pinheiro de braços abertos
sobre as pontas do teclado no momento exato em que o quadro tonal que desperta recebe
uma inesperada coloração vinda dos céus. E mal se regista o som desse avião
dir-se-ia que o quarteto não torna a aterrar. Mas não é verdade: dos mais
celíferos aos mais telúricos, visitam-se aqui todos os ciclos da improvisação.
Sonny Rollins “5 Original Albums” (Universal, 2016)
É
uma nova coleção saída dos arquivos da Prestige ou da Riverside, esta dos “5
Original Albums”. E entre títulos consagrados a Coltrane, Monk ou Miles é o de Rollins
a revelar-se mais consistente, reunindo em exclusivo LP editados em 1956:
“Worktime”, “With The Modern Jazz Quartet”, “Tenor Madness”, “Moving Out” e o titânico
“Saxophone Colossus”, com o saxofonista a atingir de vez a verticalidade.
Glass/Muhly: In the Summer House/Four Studies
Angela
Chun (vn), Jennifer Chun (vn) (Harmonia Mundi, 2016)
Muhly
sucumbe mais facilmente ao poder da sugestão. Isto, falando daquilo que possui
em comum com um minimalista. E neste “Four Studies”, dedicado às Chun, parece
recorrer ao cânone só para o iludir. Mas, aqui, até o Glass de “In the Summer
House”, transcrita para dois violinos, opta pela subtileza.
Recorrendo
a material de arquivo (Hogwood/Academy of Ancient Music ou Brüggen/Orchestra of
the Age of Enlightenment) e recente (Dantone/Accademia Bizantina) cria-se uma
integral adaptada das sinfonias de Haydn em instrumentos de época. Melhor, só
em 2032, data prevista para a conclusão dos trabalhos de Antonini/Il Giardino
Armonico. É o som de dezenas de verões passados em Eisenstadt e Eszterháza.
Vivaldi/Piazzolla/Shor: The 12 Seasons
David
Aaron Carpenter (va), Salomé Chamber Orchestra (Warner, 2016)
Escutam-se
as “Four Seasons of Manhattan”, de Shor, e percebe-se que estão aqui a dar alguma
cor local. Até porque Carpenter, em violeta, só a custo situa “Le quatro
stagioni” em Veneza. Mas nas “Cuatro Estaciones Porteñas” revela que há coisas
que são de um sítio só antes de serem do mundo inteiro.
“The Art Of Yehudi Menuhin” (Warner, 2016)
Para
quem possua toda uma vida para dedicar à música há sempre a opção “The Menuhin
Century” (80 CD + 11 DVD + Livro). Depois, há caixas que exigem um compromisso
menor, como a surpreendente “Unpublished Recordings and Rarities” (22 CD). Mas
para quem associa o verão a enlaces mais casuais, nada como esta antologia, a
espuma da imperial relação de Menuhin (1916-1999) com a EMI ao longo de 70
anos.
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