Todos
o reclamam em teoria, mas quase nenhuns o desejam na prática. Ou talvez ao
contrário. Porque a verdade é que, em inúmeros festivais de verão, um pouco por
todo o país e, muitas vezes, sem que se justifique o usufruto desse valor nominal,
se arregimentam as mais variadas expressões sob a égide do jazz. Trata-se de
certames de que estão ausentes, por exemplo, a imperiosa obrigação de obedecer
à narrativa da utopia, a curiosidade, enquanto espécie de doutrina básica do
ser humano, ou, ainda, a espontaneidade, mas igualmente a subordinação ao drama
elementar da existência, a inconstância formal e, até, uma certa impiedade. Isto
para não falar, já, de qualquer vestígio técnico dessa música que, por mais que
prospere em zonas de fronteira entre placas tectónicas, não dispensa em
absoluto de alicerces. Entre os que contrariam essa tendência, arrancam dois
esta semana: o “Jazz no Parque”, em Serralves, no Porto, e o “Jazz im
Goethe-Garten”, no Goethe-Institut, em Lisboa. Aliás, entremeadas no programa
de um e de outro lêem-se frases que dizem que o primeiro sustenta a “inclusão
de nomes que apostam na inovação e na liberdade formal da música que tocam” e
que o segundo se consagra a uma “diversidade de expressões da linguagem jazz na
Europa que não cessa de se transformar”. Mas semelhantes constrangimentos
geográficos serão apenas indicativos. Atente-se ao caso do concerto de amanhã,
em Serralves (as atuações no festival são sempre ao domingo e começam sempre às
18h00), em que o trio de Ivo Perelman (na foto), Marcio Mattos e António “Panda”
Gianfratti, composto por três brasileiros de vistas largas, resiste à imposição
de um biótopo específico. O mesmo defende o pianista espanhol Nani García (dia
10), no projeto Cinematojazzia, recorrendo à dimensão camerística do trio de
jazz e do quarteto de cordas. Já dia 17 há dose dupla: a abrir, o septimino
Slow is Possible, inspirado pelo poema de Bukowski em que se lia “E os melhores
no ódio são aqueles que pregam o amor// E os melhores na guerra são aqueles que
pregam a paz”, a que se seguirá o encontro do RED trio com o vulcânico
guitarrista Raoul Björkenheim. Por seu turno, no cartaz do JIGG (5 a 15 de
julho, sempre às 19h00), destacam-se Sputnik Trio (dia 6), Journal Intime (12)
e a parceria de Georg Ruby com Michel Pilz (14).
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