30 de dezembro de 2016

“Urgent Jumping! East African Musiki Wa Dansi Classics, 1972-1982” (Sterns, 2016)


Lê-se em notas de apresentação que “a Sterns foi feliz ao garantir o acesso a um dos mais vastos e valiosos arquivos de matrizes fonográficas de clássicos da música popular da África Oriental”. Ou seja, chegando a “material que na sua esmagadora maioria não tornou a ver a luz do dia desde que há mais de quatro décadas foi editado”. E, logo a seguir, que John Armstrong, DJ há tantos anos quanto isso e organizador desta compilação, partiu de uma seleção de “1000 faixas, cujos conteúdos baralhou e tornou a dar até conseguir reduzi-la a cerca de 60 e, por fim, recorrendo a pouco mais que uma venda para os olhos, pioneses e instinto, abreviá-la para as atuais 27”. Dir-se-ia, então, que nada justifica que nessa lista restrita de escolhidos se incluam duas mãos-cheias de canções presentes noutras coletâneas recentes. A não ser que, à mesma produzindo os efeitos desejados, a forma como são dispostas em sequência se prove superior à de ensaios anteriores – para não falar da qualidade técnica de cada audiograma. É o que agora acontece. Um exemplo? O tema ‘Nakupenda Sana’, da Orchestre Conga Internationale, banda do duplamente expatriado Johnny Bokelo (nasceu João Botelho, em Luanda, e mudou-se para Kinshasa, onde fundou os Conga Succès, antes de partir para Nairobi), igualmente incluída em “Kenya Special: Volume Two”, da Soundway. Aí, inserido numa antologia que tenta fazer demasiadas coisas ao mesmo tempo para ganhar balanço, mal se dá por ele; aqui, beneficia de uma energia que se exerce por acumulação a partir do que vem antes e que se alastra exponencialmente pelo que vem depois. Num disco com tanto de queniano quanto de tanzaniano, até se perdoa o “musiki wa dansi” do subtítulo (a Sterns quer dizer muziki wa dansi, em rigor, a música de dança definida enquanto tal em Dar es Salaam), embora, neste contexto, Armstrong garanta que nada se ganha em distinguir uma coisa da outra. Tem razão: para se apreciar um jardim também não é fundamental saber-se de que é feito o adubo.

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