Teve um final
de ano particularmente agitado no que diz respeito à edição de discos, Miya
Masaoka, com a Innova a lançar o seu “Triangle of Resistance” no exato momento
em que este “Duo” surgia nos escaparates e com Ingrid Laubrock a recrutá-la
para o estelar “Serpentines” (Intakt). Dir-se-ia uma forma de ir deixando um
cartão-de-visita aqui, outro acolá, e de facultar o acesso a uma produção marcada
por um conjunto de variáveis perfeitamente inusitado, de atuações interativas
com três mil abelhas, filodendros e baratas a composições como “While I Was
Walking, I Heard a Sound…”, para três coros, “For Birds, Planes & Cello”,
exatamente o que o título diz, e “What is the Sound of Naked Men?”, que
transformava o palco numa sala de urgências, com a monitorização
eletrocardiográfica e eletroencefalográfica dos intérpretes reprocessada em
tempo real e reconvertida em estímulos audiovisuais. Ou seja, não é estranha àquilo
que Anthony Braxton costuma referir: “Temos de pensar nestas coisas em termos
de escala. E trabalhar em planos pequenos, médios, grandes… E absolutamente
ridículos!”, conforme lembra Taylor Ho Bynum no último número da publicação
“Sound American”, inteiramente consagrado ao seu antigo professor. Nessa
perspetiva, convirá recordar que 2016 foi também o ano em que Braxton viu
chegar ao mercado mais uma instalação do seu ciclo operático “Trillium”, um
colosso multimédia que envolve cerca de 60 vocalistas e instrumentistas. Talvez,
então, por questões de escala, prende a atenção a dimensão virtualmente
intimista desta colaboração sujeita aos desígnios da Diamond Curtain Wall
Music, o sistema em que Braxton cruza improvisação intuitiva com nebulosas criadas
através do software de programação
SuperCollider. Não só pelos diálogos que se estabelecem entre o koto de 21 cordas dela e os saxofones
dele, mas sobretudo pela forma quase ambiental em que documenta fenómenos
acústicos e eletrónicos em reação permanente uns aos outros. O resultado é
visceral e fascinante.
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