Estávamos em
2000. A Soul Jazz tinha agradado aos mais variados palatos através de “Nu Yorica!”,
“Chicano Power!” e “100% Dynamite!” e tentava a mão no tempero de Nova Orleães
com “New Orleans Funk”. Os movimentos da editora inglesa eram ao mesmo tempo
prospetivos e introspetivos e quanto mais os seus responsáveis se aventuravam para
fora de Londres mais revelavam o que lhes ia no íntimo, evidenciando uma subjetividade
da qual, em rigor, nunca se livraram. De certa forma, encaravam o resultado das
suas investigações com o mesmo tipo de admiração com que Darwin havia olhado
para as Galápagos, quando, impressionado pelo número de espécies autóctones do
arquipélago, concluía que “ficamos confrontados com aquele grande facto – o
mistério dos mistérios – que foi a primeira aparição de novos seres nesta
terra”. A cada coletânea, também a Soul Jazz se interessava por aquilo que na
história da música dava mostras de pertencer a estirpes evolutivas excecionais.
E, como o famoso escritor e viajante, também a chancela fundada por Stuart
Baker caía na tentação de descortinar leis universais em tudo o que observava. É
um dos defeitos de que este quarto capítulo consagrado ao funk da maior cidade do Luisiana não se safa, com grande parte da informação
abrangida pelo livreto de 40 páginas que o acompanha a provar-se inteiramente irrelevante
para o que se propõe. Aliás, em vez deste guisado de autodidatismo regado a
ciências humanas, teria sido melhor proceder com coerência face ao sugerido em subtítulo,
prestar muita atenção ao modo como, por falar em Darwin, ‘The Monkey’, de Dave
Bartholomew, contesta o conceito de seleção natural e abraçar em definitivo a
teoria de que em Nova Orleães interessam mais as ciências ocultas que as exatas.
Seja como for, tal como nos ensaios anteriores, pense-se no funk de “New Orleans Funk” como na pedra
da Sopa da Pedra e – de Chocolate Milk ao Eldridge Holmes de ‘Pop, Popcorn
Children’ – logo se encontrará o ingrediente certo para qualquer barriga.
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