Numa das suas últimas edições de
2016, saía no “The New York Times” um artigo sobre o futuro do jazz redigido a
propósito de uma recém-criada chancela que prevê a produção de discos físicos
em tiragens limitadas a 500 cópias. Será, portanto, com alguma amargura que ao
longo de 2017 se recordarão os 100 anos de uma efeméride que marcou a saída do
jazz da esfera paroquial: a sua primeira gravação comercial, realizada pela
Original Dixieland Jass Band em fevereiro de 1917. Daí não se saber de antemão a
que facto da vida de um dos seus precursores, Scott Joplin, se dará agora mais
importância: se ao sesquicentenário do seu nascimento, se ao centenário da sua
morte. Seja como for, se ainda tiver alguma coisa no tanque, a indústria
desviará as atenções para Ella, Monk e Dizzy. Tivessem vivos, chegariam aos
100! Enfim, traumas que o mundo da música clássica superou há muito, nem que
seja por elevar continuamente a potência transformativa daquilo que a
constitui. Nessa perspetiva, a metáfora da água como símbolo de transitoriedade
e permanência é fácil de engolir: 2017 marca os 300 anos da “Water Music”, de
Handel, e dia 1 de abril Hélène Grimaud toca “Water” na Gulbenkian. Aliás, na
sala lisboeta mais vale falar-se de um maremoto: a onda de concertos inclui
Mitsuko Uchida (15/01), Yulianna Avdeeva (19 e 20/01), András Schiff (12/02), Alisa
Weilerstein (16 e 17/02), Yuja Wang (9/04), Jordi Savall (13/04), Gidon Kremer
(17/04) e Grigory Sokolov (23/04)! A 25 de abril o russo segue para a Casa da
Música, anfitriã de um primeiro trimestre cujo impacto retórico será testado
sob a égide do “Ano Britânico”. Harrison Birtwistle é Compositor em Residência
e já dia 20 faz o Porto tremer com “Earth Dances”. Atenção ainda aos programas
do coro dirigido por Paul Hillier e a duas obras de arrepiar antes da Páscoa:
“Stabat Mater” e “Via Sacra”, de James Dillon.
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