Fez ontem 70 anos, Gidon Kremer, e,
em entrevistas, tem falado de tempo perdido. Aliás, ainda na semana passada, em
conversa com o “The New York Times”, se censurava por só muito recentemente se
ter debruçado a sério sobre a obra de Mieczyslaw Weinberg (1919-1996): “É o
exemplo perfeito de uma personalidade negligenciada. Por mim, também. Foi uma
enorme falha minha não o ter descoberto mais cedo. Mas, sabe, estas coisas demoram,
como um bom vinho [a maturar]”, dizia o violinista e diretor da Kremerata
Baltica, a orquestra que fundou há duas décadas e que está igualmente de
parabéns. Emendou-se há coisa de três anos, quando a ECM lançou um duplo CD seu
consagrado à música camerística e sinfónica do polaco-soviético.
Agora,
apresentando as “Sinfonias de Câmara” e, em estreia mundial, uma orquestração
do “Quinteto para Piano” que escreveu a meias com o percussionista Andrei
Pushkarev, Kremer não hesita: “O valor da música de Weinberg parece-me óbvio –
os seus opúsculos não obedecem a nenhum sistema, nenhuma escola, nenhuma
ideologia. [É] uma contínua fonte de inspiração.” É um discurso que retira o
capote do fatalismo dos ombros do compositor. E Kremer e a ECM não estão sós,
com a Naxos, a Neos ou a Grand Piano a produzirem integrais de Weinberg. Mas é o
suficiente para que Alexander Raskatov, numa invocação do seu amigo e
colaborador, lamente que ele “não tenha podido testemunhar em vida o triunfo da
sua música.” É um pensamento que cobre de melancolia as quatro “Sinfonias de
Câmara”, compostas entre 1986 e 1992, quando Weinberg, adoentado e esquecido,
lançava um olhar retrospetivo sobre a sua obra tomando em grande parte como
modelo quartetos de cordas seus dos anos 40 que nunca tinha conseguido publicar.
Também o Quinteto, de carácter pós-Romântico, vem de 1944, mas aqui o que
surpreende é a sede de viver que nele se adivinha, a sede que só um
sobrevivente à Grande Guerra – e, depois, ao regime Soviético – podia ter, sede
que Kremer e Yulianna Avdeeva tornam insaciável.
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