Em 1987 tocava
naqueles conjuntos que pareciam de geração espontânea mas que eram tudo menos
isso: atuou no Rock Rendez-Vous com os SPQR, ao lado de Rafael Toral e de José
Pedro Moura; apresentou-se na Galeria Monumental com os Croix Sainte; deu
concertos no Teatro do Século e no Ritz Clube em formações lideradas por Sei
Miguel. 30 anos depois, editado este “Desire & Freedom”, críticos de todo o
mundo falam de Rodrigo Amado como um sobrevivente das guerras paroquiais da New
Thing, entretido a lamber as suas feridas, quando, na realidade, a sua ambição terá
sido sempre a de iludir o provincianismo. Da mesma forma, nas mais variadas
publicações, Lisboa é atualmente representada como um epicentro de novas
músicas quando, grosso modo, o que se deu foi mais uma reformulação nas
estruturas com que a cidade ciclicamente acomoda estímulos exteriores. Dir-se-ia que nesse
trânsito permanente ele é dos poucos a receber e a enviar sinais
nos dois sentidos. Conseguiu-o através de uma prática algo solitária e vagamente
descontínua, arranhando línguas estranhas em processos de composição menos orgânicos
do que aqueles que desejaria, supõe-se. Mas o seu crescimento foi exponencial, mais pela sucessiva agregação de
camadas à superfície do que por outra coisa qualquer.
Hoje, principalmente se acompanhado por Miguel Mira e Gabriel Ferrandini no
Motion Trio, ao improvisar livremente, sugere, aliás, estar a aproximar-se do
ponto de superação de um obstáculo que de tempos a tempos se intrometia no seu
caminho e que vinha da frustração de encontrar limites na linguagem que tinha
escolhido para si. Ou melhor, de sentir que nem sempre acedia àquele estado em
que os conceitos que lhe eram mais caros – liberdade, criatividade, espiritualidade
– se mostravam inteiramente adequados ao que fazia. Agora, pelo que tem dito em entrevistas, percebe-se
que foi pelo reconhecimento da importância da responsabilidade naquilo que
produz que se livrou do dogma. “Desire & Freedom” é o momento em que quebra
a barreira do som.
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