Prossegue
a reavaliação de ativos da Universal, desta feita através da coleção “5
Original Albums”, da Blue Note, com recentes volumes consagrados a Dexter
Gordon, Joe Henderson, Kenny Burrell, Herbie Hancock, Art Blakey e Wayne
Shorter. Para quem não a conhece, convirá esclarecer que não se trata apenas de
mais uma série económica que relança edições originais representadas por
fac-símile e individualmente agrupadas em bolsas e faixas de cartolina. Ou
seja, que não é exclusivamente aquilo que parece. Isto, porque no que diz
respeito à indústria fonográfica se supõe antecipadamente que projetos desta
natureza não só incidem de modo preferencial em trabalhos bastamente conhecidos
como procedem à reunião de títulos que se encontram facilmente no mercado
noutros formatos. Hipótese que, dada a constante reorganização de catálogo nas
multinacionais, não podia andar mais longe da verdade.
É o que demonstra o
tratamento da obra de Shorter. Pense-se, por exemplo, em “Etcetera” (1965), com
o saxofonista no seu estado mais intransigente, inventivo e intrigante e com algumas
das suas composições mais astutas, audazes e simultaneamente arquetípicas. Apesar
de contar entre as suas fileiras com Herbie Hancock, Cecil McBee e Joe Chambers
e de provir daquela milagrosa sequência de álbuns que vai de “Night Dreamer”
(1964) a “Schizophrenia” (1967) – além destes três, do período, incluem-se
ainda nesta caixa “The Soothsayer” (1965) e “Adam’s Apple” (1966) – foi
colocado pela primeira vez à venda em 1980 e tem andado a fugir aos escaparates
desde uma estampagem inicial em CD de meados de 90. Devidamente reintegrado na
discografia permite, agora, que se reconheça sem dificuldade a importância
dessa produção que Shorter ia desenvolvendo em concomitância com o papel que
desempenhava no quinteto de Miles Davis. Aliás, ouçam-se estes cinco discos e
logo se entenderá aquilo que Shorter disse ao Expresso, em 2014: “A realidade
das coisas é que nada é descartável. É o seu valor que está em trânsito.”
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