6 de maio de 2017

“Cellist of the Century: The Complete Warner Recordings” (Warner, 2017)


Nasceu a 27 de março de 1927, Mstislav Rostropovich, tendo falecido a 27 de abril de 2007. Em 2017, para o que resta dos grandes conglomerados da indústria fonográfica, habituados ao jejum e na ignorância do que lhes reserva o futuro, tantos 7 são praticamente um convite à rentabilização de ativos. E quem abriu hostilidades, no caso, foi a Universal, logo em janeiro, numa caixa de 37 CD, através de “Complete Recordings on Deutsche Grammophon”, que inclui ainda quatro álbuns da Decca, três da Philips e sete da Melodiya e se estende não só ao maestro como também ao pianista Rostropovich (a acompanhar Galina Vishnevskaya, sua mulher, num programa de canções russas – a editora ter-se-á apenas esquecido de um LP da Decca em que o casal se dedicava a um ciclo de Britten). Mas nisto, como nos duelos entre pistoleiros nos westerns, quem saca primeiro costuma acabar no chão, e há coisa de um mês, com este “Cellist of the Century”, a Warner provou que se aplica também aos discos aquilo que um estudo de física chamou de “vantagem reativa”. Essencialmente porque, em rigor, o que aqui se produz é o regresso aos escaparates de “The Complete EMI Recordings” (antologia de 2008, com vida curta, em virtude, ao que se sabe, de problemas com direitos), sem exclusão dos extras previamente reunidos em “The Russian Years: 1950-1974” (as históricas gravações da emissora estatal soviética, secretamente poupadas da destruição quando o famoso decreto de Brejnev que retirava a nacionalidade a Mstislav e Galina empurrou o violoncelista para o exílio). É um primeiro período de estreias, dedicatórias e encomendas (Prokofiev, Shostakovich, Kabalevsky, Khachaturian, Britten, Lopes-Graça, Weinberg) a que se virá suceder essoutro, no ocidente, marcado por concertos de Dutilleux, Gubaidulina, Halffter, Lutoslawski, Penderecki e Schnittke, responsáveis por incontáveis avanços na literatura do género. Imaculado, o livro de 200 páginas traz algum material inédito. Seria porventura isso que mais agradaria a “Slava”.

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