Era uma noite de segunda-feira, em Madison, no Wisconsin.
A 15 de novembro de 1976. Bill Evans, Eddie Gómez e Eliot Zigmund tocavam para
cerca de mil pessoas num dos auditórios da universidade local, estima hoje, com
espanto, Ashley Kahn, autor das notas de apresentação do inédito. O que diria
das cinco mil que nesse mesmo fim de semana passavam pelo Dramático para
assistir ao Cascais Jazz, não se sabe. Mas a crescente popularidade do jazz acústico,
supostamente em desgraça junto do público e da crítica da época, não
surpreendia o pianista. Aliás, na véspera do concerto, entrevistado por Larry
Goldberg e James Farber para uma estação de rádio da terra, a “WORT-FM”, Evans
garantia tê-lo previsto “há cinco ou seis anos atrás”: “Para além do facto de
se estar a tornar mais importante em termos comerciais, há um número crescente
de jovens a interessar-se por ele”, concluía. A conversa ficou nos arquivos pessoais
de Goldberg e Farmer até fevereiro de 2015, quando decidiram partilhá-la em “JazzWax”,
o blogue do jornalista Marc Myers. O que na altura ficou por dizer é que também
tinham documentado a atuação do trio.
Cá está ela, então, 40 anos depois,
suficientemente importante para que, num depoimento recolhido por Kahn, Zigmund
admita que fazia falta uma “gravação definitiva do grupo, ao vivo” – isto é, que
há algumas “sessões de estúdio” bem-sucedidas, e umas quantas “edições
piratas”, mas que não há nada que represente tão bem aquilo que se propunham
fazer. Estará certamente a esquecer-se da data no Newport a Paris desse ano
(dez dias antes desta, por sinal), captada pela ORTF e lançada em 1989, pela
primeira vez, na integral da Fantasy. E, sim, também aí (‘Sugar Plum’, ‘Time
Remembered’, ‘T.T.T.’, ‘Someday My Prince Will Come’ e ‘Minha’ estão num e
noutro registo) se dava a entender o que agora se confirma: de existência
curta, este foi o melhor trio de Evans desde essoutro, de vida ainda mais
breve, que tinha tido com Paul Motian e Scott LaFaro. E fica tudo dito.
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