A
gravação tem origem num par de concertos que Harris Eisenstadt, Nate Wooley,
Matt Bauder e Pascal Niggenkemper deram no sótão da Sociedade Musical União
Paredense, a 30 de abril e 1 de maio de 2016, mais ou menos a meio de uma breve
digressão europeia. Daí o trocadilho do título, claro, e a manipulação na capa
do CD de uma emblemática foto de finais da década de 50 da praia da Parede, do
espólio do Estúdio Horácio Novaes, pertencente à coleção da Biblioteca de Arte
da Fundação Calouste Gulbenkian. Ora, como é óbvio, pode haver alguma
serendipidade à mistura, mas a verdade é que também a música do quarteto remete
para o tempo desses retratos a preto e branco (não obstante se dar a conhecer
através de títulos inspirados em programas televisivos como “Downton Abbey” ou
“True Detective”). Aliás, numa entrevista ao “All About Jazz”, publicada em
outubro de 2009, Eisendstadt admitia que “a existir algum tipo de arquétipo
para este grupo [“Canada Day”, o primeiro do que, até 2015, viriam a ser quatro
volumes de constituintes algo variáveis, tinha, então, sido editado pela Clean
Feed], será que ele representa a minha declaração de amor ao quinteto de Miles
Davis filtrado pelos discos da Blue Note dos anos 60 com o piano substituído
pelo vibrafone [de Chris Dingman, pela primeira vez ausente num registo
subordinado à ação da banda].” O baterista concluía que, em termos de
orquestração, não se tratando de “uma formação grande, nem pequena, era uma
combinação perfeita entre a escassez e o excesso.”
Obedecendo-se a alguma regra
de conduta, aqui, será essa – embora se prove eminentemente contemporânea, a
responsabilidade moral dos instrumentistas que continuamente questionam,
contrariam e confirmam os procedimentos coletivos. Algo que se verifica de modo
exponencial no contraponto entre trompete e saxofone, quando se dão ritmos
cruzados ou se desliza para uma harmonia mais oblíqua ou se abre as portas ao
exotismo (no caso, o afrobeat) e se
reduz a uma chuva de saliva o que tinha começado numa sublime linha melódica.
Mais do que adesão, ou não, à convenção, trata-se de disputar a
unidimensionalidade da expetativa. Agora, como na década de 50. Na Parede, como
em Nova Iorque.
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