Era a
primeira geração a crescer com o rock’n’roll.
Aliás, há cerca de sete anos, ao recordar esse tempo, Malick Sidibé dizia o
seguinte ao “The Guardian”: “Foi a música que nos libertou. Entrávamos numa
nova era. As pessoas queriam dançar. Subitamente os rapazes podiam aproximar-se
das raparigas, senti-las nos seus braços. O que anteriormente não se permitia.
Toda a gente queria ser fotografada bem agarradinha. Eles queriam ver-se.” Isto
é, através dos retratos, sem menosprezo por muitas coisas mais, procuravam
ocupar o mesmíssimo espaço público a que o regime colonial lhes tinha vedado o
acesso, projetar uma imagem secular e cosmopolita ou identificar-se enquanto
agentes de modernização. Como tantos jovens por esse mundo fora, num quadro de
alterações comportamentais sem precedentes, definiam-se por aquilo que à sua
própria cultura subtraíam e adicionavam e pelo que da cultura dos outros
excluíam ou não. Sidibé, com a sua câmara, criou a crónica visual do período. De
uma energia tão emblemática, por sinal, que, agora, uma compilação que se
propõe a produzir o seu equivalente fonográfico nem precisa de colocar título
na capa – basta-lhe a reprodução de “Les trois amis avec moto”. No disco, cá estão as cartilhas da
independência e da liberdade expressas exatamente nas linguagens musicais mais
revolucionárias à face da terra, sim, mas, em virtude das contínuas pressões
dos regimes de Modibo Keïta e Moussa Touré, que escutavam emanações
imperialistas em qualquer estilo desenvolvido fora de portas, surge também uma
nova estética folclórica que, como não poderia deixar de ser, possui muito de
fictício. Há material inédito em CD (de Super Tentemba Jazz, Super Djata Band
ou, até, da Rail Band) e
outro reeditado noutras paragens (o de Sorry Bamba na Thrill Jockey, em 2011, o
de Les Ambassadeus du Motel na Sterns, em 2014, o de Idrissa Soumaoro et
L’Eclipse de L’Ija na Mississippi, em 2015). Mas há quase dez anos, desde “Mali
70: Electric Mali”, que não se ouvia nada assim.
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