Tem-se revelado um dos mais complexos, completos e controversos
instrumentistas deste milénio. E, sim, continua a fazer em palco aquilo que
outros fazem deitados num divã, à cata de ligações entre introversão e
extroversão, ora reagindo à forma em que se manifestam em si ações alheias, ora
medindo o impacto dos seus feitos no mundo exterior. Isto, sem dar a entender
que as qualidades são mutuamente exclusivas. E é esta multiplicidade de faces
que, mais uma vez, Mat Maneri revela num par de deslumbrantes discos que
parecem formados por processos orgânicos tão inevitáveis quão inescrutáveis. Ou
seja, nestas expandidas versões de dois duos – com o pianista Lucian Ban editou
o etéreo “Transylvanian Concert” e com o violoncelista Daniel Levin o denso
“The Transcendent Function” – encontra-se o paradigma da individualidade,
claro, mas também o da adaptabilidade. Aliás, preste-se atenção ao que num e
noutro registo faz com a sua violeta que não deixará de impressionar pelo muito
de Ban, de Parker, Levin e Malaby que deixa transparecer no seu particular
idioma – e o comportamento dos dois saxofonistas é bem mais que pivotante. Isto
é, ainda que permaneça instantaneamente reconhecível como intérprete, Maneri abdica
da rigidez. Nessa medida, e pese embora as enormes diferenças entre os trios –
o de “Sounding Tears” está para a noite como o de “New Artifacts” está para o
dia –, voltar-se-á a ideias postuladas por alturas de “Three Men Walking”, o CD
inspirado por aquela escultura de Giacometti em que cada figura segue numa
direção diferente sem deixar de partilhar o espaço das outras.
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