A dupla assina como EITR, o que
aponta genericamente para a mitologia nórdica e especificamente para aquela
líquida substância presente nas crenças da Escandinávia pré-cristã, a partir da
qual se cria ou destrói a vida, de efeito deletério no seu estado puro, bastas
vezes associada à peçonha das serpentes. Ouça-se o sugestivo “Trees Have Cancer
Too”, um disco lançado em 2013 numa edição limitada a 150 unidades, e dir-se-ia
que Pedro Sousa e Pedro Lopes (na foto) teriam caído em pequenos no caldeirão do eitr. Nomeadamente porque – e é disso
que se trata – se dedicam a uma expressiva transformação das funções vitais da
música, aqui em iterações primordiais, capaz de trazer à memória a autoridade
da negação que por vezes há na arte, conquanto não se coíba de engatar a embraiagem
da circunstância. Estão respetivamente ao saxofone e no gira-discos (embora
Lopes não recorra a fonogramas propriamente ditos) e os seus sinais estão em
trânsito permanente, a testar aproximações ao curto-circuito, o colapso de um
sistema como crescimento desse sistema. São hoje esperados às 18h30 no
Auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, no âmbito do Jazz em
Agosto, este ano consagrado concetualmente a um “campo vasto de contaminações
transformadoras” mais ou menos endógenas. Impulso que terá estado presente na
origem do grupo há 30 anos constituído por Jim Black, Chris Speed, Andrew
D’Angelo e Kurt Rosenwinkel (Human Feel), e que às 21h30 subirá ao Anfiteatro
ao Ar Livre, para não falar, já, na formação do quarteto High Risk, por Dave
Douglas, em que a sua trompete é como o narrador que anda pelo cosmos à cata de
sentimento num filme de ficção-científica – encerra amanhã o festival às 21h30.
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