19 de agosto de 2017

Eric Revis “Sing Me Some Cry” (Clean Feed, 2017)


Há 20 anos ao lado de Branford Marsalis, foi sobretudo pelos discos editados em nome próprio na última mancheia deles que Eric Revis iludiu o parêntese: primeiro com “Parallax”, depois com “City of Asylum” e “In Memory of Things Yet Seen” e por fim com “Crowded Solitudes”. E, ainda que de modo assíncrono, envolvendo sempre o virtuoso trio de instrumentistas que agora convoca: Ken Vandermark em palhetas, Chad Taylor à bateria e Kris Davis no piano. Talvez por isso se note neste registo aquele efeito de acumulação que resulta da descoberta de um lugar comum – para não atribuir, já, o elevado valor do que aqui se escuta àquela combinação de circunstâncias nada conforme ao costume contemporâneo que coloca continuamente em contacto o coletivo de compositores. Isto, porque, não tanto por uma cedência ao destino quanto pela sua superação, há algo de inelutável em “Sing Me Some Cry” – os músicos com suficiente à-vontade entre si para experimentar novas formas de conforto e desconforto.

E, no entanto, em virtude das vidas que levam e da multiplicidade simultânea de grupos em que tocam, como tudo isto depende da tolerância face às pertinências e impertinências de cada um! Escrevia Vandermark, em abril, num post de Facebook, a meio de uma digressão europeia em que surgia nos mais variados registos: “O concerto [neste quarteto] revelou-se uma enorme surpresa, até porque foi a primeira vez que tocámos de maneira totalmente improvisada. Foi difícil de crer, porque senti o material espontâneo tão ‘composto’ quanto o escrito, tal o extraordinário nível de comunicação e empatia entre os membros da banda.” Entende-se o espanto perante tamanha coesão: na bagagem levavam quatro dias de trabalho desenvolvido meio ano antes, precisamente por alturas da gravação deste CD. “A Kris é inacreditável e com o Eric e o Chad estou a ter um cheirinho do que seria tocar noite após noite com o Mingus e com o Richmond. Não podia estar mais feliz”, concluía. Põe-se o disco a tocar e percebe-se porquê.

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