19 de agosto de 2017

“Zaire 74: The African Artists” (Wrasse, 2017)


Em letra miúda, na última página de um livreto formado por uma apresentação saída da pena de um jornalista muito pouco à vontade com os factos (Robin Denselow, do “The Guardian”), lê-se: “Hugh Masekela gostaria de agradecer a Steve Tolbert pela massa para o Zaire 74.” Trata-se da única referência a Stephen A. Tolbert – à data, o Ministro das Finanças do executivo de William R. Tolbert Jr., seu irmão, na Libéria – e, como é óbvio, através deste lançamento, nada mais se fica a saber acerca do modo em que o certame se custeou. Ou seja, os seus organizadores (Masekela e Stewart Levine, na foto) não tomam partido de uma desatenção histórica para trazer a lume as jogadas de bastidores que estiveram na origem do evento – esta é efetivamente a primeira edição de algumas das extraordinárias atuações dos artistas africanos presentes neste festival programado para anteceder o combate entre Foreman e Ali em Kinshasa, entre 21 e 23 de setembro de 1974. (Aliás, até há pouco tempo presumia-se que tivesse saído tudo das mentes conturbadas de Don King e Lloyd Price.) 

Nem, já agora, se explica que os nomes dos pesos-pesados que aqui figuram (uns exemplares e enérgicos Tabu Ley Rochereau, Abeti, Franco, Stukas e Miriam Makeba) não representam completamente a alternativa autóctone à embaixada de cabeças-de-cartaz norte-americana convocada para o efeito (James Brown, Bill Withers, Spinners, Crusaders, Sister Sledge, etc.): além do de Masekela, claro, faltam aqui os de Zaïko Langa Langa, Manu Dibango, Verckys, Papa Wendo ou Trio Madjesi. Quanto ao desastroso resultado de bilheteira (“Poor box office”, lia-se no “The New York Times”, dias depois), não há como ocultá-lo: quase não há palmas. É que, como se sabe, Foreman lesionou-se (cf. esta odisseia nos documentários “When We Were Kings” e “Soul Power”) e o combate foi adiado um mês – ou seja, como alguém na altura terá dito, já não vieram ao festival os charters de Nova Iorque. Sorte dos congoleses, que tiveram tantos bilhetes oferecidos para o dia de encerramento que encheram o antigo estádio Rei Baduíno e empurraram a festa até às 6 da manhã!

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