As placas tectónicas (embora
teutónicas pareça ser uma palavra mais apropriada) separaram-se há muito.
Aliás, partindo do princípio que não se deixa tomar pelo desejo indiscreto de
saber ao certo que “farpas” lançou recentemente Luís Filipe Reis a Tony
Carreira (descrito como “guerra de cantores românticos”, pela revista “Flash”),
quem no Google escrever “Guerra dos Românticos” há de lá ir parar: resumindo, ao
rifte entre correligionários de Brahms, por um lado, e de Wagner, por outro, em
meados do século XIX. Mas em França, como é óbvio, a questão nem se chegou a
pôr. Bastará, nesse sentido, lembrar um ensaio de Baudelaire, escrito na língua
dos comunicados de imprensa, em que o poeta se dizia “impotente”, “subjugado e
transportado” pela música de Wagner, incapaz de se defender do seu “poder
irresistível”. Josiah Fisk, de modo indireto, na segunda edição de “Composers
on Music: Eight Centuries of Writings”, em 1997, documentou aqueles que se
dedicaram a tirar o pêlo às peças de Brahms e limpar-lhes o carnaz: Lalo (“Não
nasceu para músico; o que possui de inventivo é, na realidade, insignificante
ou imitativo. Dir-se-ia um homem que tem de procurar à direita e à esquerda
aquilo que não encontra dentro de si”), Ravel (“Na arte, não é possível ser-se
apenas artesão. A mera vontade de produzir seja o que for é estéril [se não
houver inspiração]. É o que a obra de Brahms demonstra”), Fauré (“Não possui
nada de verdadeiramente triunfante”), Dukas (“É sempre engenhoso,
frequentemente interessante, jamais comovente”), Milhaud (“A música de Brahms
escapa-me”) ou Poulenc (“Deixa-me indiferente”).
Credo! Dir-se-ia a única
pessoa em fato de banho numa praia de nudistas. Quão irónico será, então, que seja
pelo filtro da sensibilidade gálica que melhor se lhe reconhece hoje a
sensualidade – no que diz respeito às sonatas para violoncelo e piano, no
último punhado de anos destacam-se Victor Julien-Laferrière e Adam Laloum (na
Mirare), Bruno Philippe e Tanguy de Williencourt (na Évidence), Anne Gastinel e
François-Frederic Guy (na Naïve), Ophélie Gaillard e Louis Schwizgebel-Wang (na
Aparté) e Hélène Grimaud e Sol Gabetta (na Deutsche Grammophon), gente que recordará
os nomes de Paul Tortelier e Pierre Fournier. Pois, adicione-se-lhe Tharaud e
Queyras, outro par que sabe como uma peça de roupa a mais nesta tímida música
pode ser meio caminho para lhe desvelar a intimidade.
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