Deu pela primeira vez nas vistas em “Current Trends
in Racism in Modern America”, de Butch Morris, esse retrato de um nicho
ecológico nova-iorquino de meados de 80 que o passar dos anos só tornou ainda
mais vívido. Desde então, dir-se-ia que Zeena Parkins se tem dedicado à crónica
das variáveis ambientais que no domínio da música experimental testam o poder
de adaptação da sua espécie a um conjunto muito específico de fatores
limitantes. Para tal contribuiu uma invulgar capacidade em transcender as
restrições apontadas à harpa. De facto, durante décadas, ao lado de Fred Frith,
Elliott Sharp, Marc Ribot ou Nels Cline, por exemplo, a sua aproximação a guitarristas
demarcou um campo de ação que possui tanto de positivo quanto de negativo – com
Parkins a verificar em primeira mão tudo aquilo que simultaneamente confunde e
distingue a harpa da guitarra. No entanto, convirá não ignorar esse prodigioso
e precoce ensaio que dá pelo nome de “Something Out There” (1987), em que se dá
um embate entre o seu instrumento e as múltiplas formas de conceber o papel da
percussão nessa prática tão avessa à convenção. É o que reflete a parceria com
o baterista Brian Chase (Yeah Yeah Yeahs), pautada pelo mistério e pelo mester,
em que cada executante leva o ouvinte a perder a pista do caminho que aos dois
conduz (tocam hoje, no Auditório 2, às 18h30). Quem também trocou as voltas a
quem o escuta foi o trompetista Ambrose Akinmusire, que, em “Origami Harvest”,
com Victor Vasquez (Das Racist), devolve ao jazz o poder da palavra bem como a
aptidão de pregar sobre a origem e o fim das coisas, o que nos une e desune,
ata e desata, faz e desfaz (acompanhado pelo rapper Kokayi, pelo baterista Justin Brown, pelo pianista Sam
Harris e por um quarteto de cordas, subirá ao palco do Anfiteatro ao Ar Livre
às 21h30). O festival encerra amanhã com a ligação à terra do trio ERIS 136199
(18h30) e com a ligação ao ar de Mary Halvorson e as etéreas canções de “Code
Girl” (21h30).
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