A precoce conversão de Ahmad Jamal e Yusef Lateef ao
islamismo foi encarada com a desconfiança do costume. Mas no caso do segundo
soube dar-se graças por se conseguir assim poupar gerações de melómanos à
desordem discográfica que resultaria da inclusão em catálogo de outro Bill
Evans. Seja como for, em virtude do sucesso comercial obtido pelas primeiras
produções de Jamal ou em consequência das extravagantes investidas por
tradições levantinas de Lateef, foram ambos colocados ciclicamente à margem de uma
cultura incapaz de ver para lá dos seus próprios preconceitos. Já em meados dos
anos 70, quando, por exemplo, o pianista gravou “One” e o saxofonista “Autophysiopsychic”,
sugerindo uma perfunctória associação a modas, eram um alvo comum para zelotes.
Não obstante, provaram ser instrumentistas continuamente sinceros, modestos e
astutos, conscientes do dom que possuíam embora não especialmente interessados em
analisá-lo. Ultimamente a sua técnica ficou mais digressiva e elíptica, como,
no púlpito, a de um padre que divirja do evangelho em busca do essencial. E se
há algo de muito digno na forma em que regressam às escrituras, a verdade é que
não se imagina um par de músicos mais distantes. Este registo, no qual, durante
uma atuação do elegante e sóbrio quarteto de Jamal, se reúnem em palco ao longo
de 30 minutos, vem inequivocamente sublinhá-lo. Nessa meia hora, em que Lateef
(entretanto falecido) canta e toca pífaros, flautas e apitos para chamar
pássaros, é como se a plateia inteira, desorientada e submissa, desse por si na
orla da mais remota floresta a chorar a ruína dos últimos da sua espécie e a queda
da humanidade.
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