É um pormenor que se diria apenas ajudar a extrair saudades ao
mundo, ainda que fale mais alto do que as proverbiais mil palavras. Porque não
será tarefa fácil explicar exatamente ao que aqui se vem ou, pelo menos, fazê-lo
de modo a que a justificação não se prove contraproducente. Talvez por isso, na
fotografia, com ar, aliás, de ter sido o primeiro que lhe veio à mão, está
entre Conte e a máscara africana um punhado de LP em que se incluem “Eastern
Sounds” (Lateef), “The Eastern Moods of…” (Abdul-Malik), “Afro Soul/Drum Orgy” (Salim), “Kulu Sé Mama” (Coltrane) e “Baiyina”
(Martino). Eis a imagem estereotipada de uma arte politicamente
comprometida mas incondicionalmente apegada à superstição ou, numa visão mais
moralista, a expressão moderna de uma antiga curiosidade acerca da função
multiculturalista do jazz. Mas se “Free Souls” ambiciona circular um nível
acima daquele em que transita o pensamento, há também a apontar-lhe alguma incapacidade
em disfarçar as linhas que lhe servem de guia: Lorez Alexandria para a versão
de ‘Baltimore Oriole’, Flora Purim para a de ‘Sandália Dela’, Hank Mobley para
‘If I Should Lose You’. Só que, depois, vai-se de encontro a uma leitura de
‘Ode to Billie Joe’ capaz de trazer à memória a que Oliver Nelson orquestrou
para Nancy Wilson e, aí, percebendo-se que, afinal, isto é sobre as tais
“pessoas da sala de jantar” de que os tropicalistas falavam parecendo ter em
mente a canção de Bobbie Gentry, os que discutem tragédias à hora da refeição,
todos nós, entende-se o disco pelo que é: um inesperado libelo contra a
indiferença e a ignorância. E cumpre, então, algo daquilo que o seu título
sugere.
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