Foi
uma espécie de propedêutica para tempos de paz, o melhor da produção dos
Ambassadeurs. Captada entre 1975 e 1977, cá está a cartilha do pão, habitação,
saúde e educação, mas aqui se encontra, também, muito daquilo que ultrapassa panegíricos
encargos da praxe: num momento em que se procurava identidade nacional,
apresentava-se um quadro referencial marcado por multietnicidade e
pluriculturalismo; quando se estimulava o orgulho pátrio, promoviam-se valores
comuns a toda a África Ocidental; numa conjuntura em que se impunha a apologia
política, e sob influência direta do tenente Tiékoro Bagayoko, patrono da banda
e mandante no regime de Moussa Traoré, abordava-se a problemática da emigração
e falava-se na obrigação de transparência no exercício de cargos públicos. A música,
essa, não era menos transgressora. Isto é, o palco do bar do Motel de Bamako não
era só a expressão da doutrina governamental de incentivo às artes sob o
folclórico signo da ‘autenticidade’. Pelo contrário, mantendo uma disposição
mandinga, estes embaixadores – Salif Keita, Manfila Kanté, Idrissa Soumaoro,
Osmane Dia, “Vieux” Sissoko, Kélétigui Diabaté ou Amadou Bagayoko, malianos, guineenses
e senegaleses – faziam incursões na tradição afro-cubana e na chanson, emulavam as bandas inglesas no
seu processo de aculturação do r&b, invocavam o nacionalismo afro-americano
e levavam a que os seus ouvintes descobrissem as múltiplas dimensões da sua
própria música através da música dos outros. Este verão, reuniram-se os
sobreviventes para concertos na Europa enquanto no Mali desaparecia tudo aquilo
pelo que pugnaram.
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