Luzerner Sinfonieorchester, James
Gaffigan (d)
Em 1922, com ‘Goin’ Home’, e não obstante ser justamente isso
o que aparentava fazer, Williams Arms Fisher não se limitou a transferir uma
famosa figura melódica da sinfonia que Dvorák compôs em 1893, e nomeou ‘Do Novo
Mundo’, para o domínio dos ‘espirituais negros’. Ao invés, criando condições
para que a obra do checo, seu antigo professor no Conservatório Nacional, em
Nova Iorque, regressasse à ‘casa de partida’, propôs uma deslocação que se
movia em sentido contrário. Agiu, claro está, com um atraso de 30 anos, quando
o seu mentor tinha já, há 18, falecido e numa altura em que era evidente que
não se iria cumprir o desígnio pelo qual, entre 1892 e 1895, fixou residência nos
EUA: a fundação de uma ‘escola clássica’ de matriz afro-americana. Na Europa, também
em 1922, e a propósito do “espírito americano”, atente-se ao que escrevia Adolf
Weissmann em “Die Musik in der Weltkrise”: “Reclama por uma vida musical
própria, mas adora espetáculo e emoções fortes, não se interessa por
abstrações, é subjugado pelo dinheiro e só agora acomoda noções de bom gosto”. É
como se Dvorák tivesse andado a pregar no deserto. Mas sai ocasionalmente um CD,
como este, que permite que se coloquem as coisas no sítio certo: eis a
“Sinfonia Nº 6”, em Ré maior, de 1880, povoada de paradoxos, como se tivesse
vindo ao mundo para desmascarar a hipocrisia vienense e denunciar a malquerença,
e, justaposta, a “Suíte em Lá maior”, dita ‘A Americana’, de 1895, polvilhada
de promessas, como que dedicada ao que de mais digno há na ideia de progresso.
Ficou a primeira presa à realidade e a segunda associada à utopia. O problema
foi precisamente esse.
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