É uma sinfonia coral, esta sétima, e vale-se de curtas
citações. Cá está o Buda de “Nós somos o que pensamos” ou o Gandhi de “Seja a
mudança que quer ver no mundo” ou o Chopra de “Quanto menos abrir o seu o
coração aos outros mais o seu coração sofrerá”. Só falta o Yoda de “O medo leva
à raiva, a raiva ao ódio, o ódio ao sofrimento”. Ou seja, parafraseando Gilberto
Gil, eis mais um que se orienta. E outro que, à primeira vista, não ilude
dogmas identificados por Said em “Orientalismo”: que “abstrações sobre o
Oriente são preferíveis às evidências diretas extraídas das realidades
orientais” ou que “o Oriente é eterno”. Reincidindo-se, aqui, noutro preceito:
que Estónia, magma orquestral e transcendentalismo são necessariamente
coincidentes. Só que repetidas audições sugerem que, mais do que compensá-las, o
compositor se interessa por pôr a descoberto deficiências morais do nosso tempo.
Consegue-o com inusitado sentido do dramático e inegável propensão para o
macabro (mas basta ver as notícias para se perceber que, por exemplo, através
de Wirathu, na Birmânia, também o budismo se submete hoje a uma lógica de
violência) e com gestos, grandiloquentes e algo anedóticos, que não dissimulam
um passado de militância no rock progressivo. Isto é, em Tüür, o mais
bem-sucedido é o mais vulgar e artificial. Aquilo que, noutras mãos, se tomaria
por um estiolamento académico. Admirando-lhe uma extraordinária cinética que
remonta à Hollywood de Steiner e Tiomkin e Korngold e Waxman e Rózsa et al, na qual, como se sabe, cabia toda
a música, perdoa-se-lhe até a presunção de julgar o seu ouvinte. Como sempre, o
que nos salva é o que nos expõe ao ridículo.
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