Sim,
o parlamento está a um passo de aprovar a proposta de lei que criminaliza a
homossexualidade, discrimina-se genericamente a mulher, prolongam-se conflitos
étnicos a oeste, a economia depende do trabalho infantil e da caça furtiva, prossegue
a desflorestação de áreas protegidas, milícias rebeldes recorrem à violação, à
tortura e à mutilação nos dois lados da fronteira com o Congo, 7% da população
ainda vive com o vírus do HIV, os soldados do LRA, de Joseph Kony, continuam a
raptar, aterrorizar e perseguir civis nas mais remotas zonas da República
Centro Africana e Sudão do Sul e, como se nada fosse, nomeado pela União
Africana e com a anuência de políticos do mundo inteiro, Sam Kutesa, um homem
da confiança do presidente Museveni, conduz as sessões da Assembleia Geral das
Nações Unidas. Mas, no meio de tudo isto, no Uganda, também há quem diga apenas:
“Eu escolho o amor”. É o caso destes Acholi Machon, gravados por Ian Brennan e,
aqui, representados por Gaetano Tep Yer Yer e Kornelio Odong Mulili. Imunes ao
lugar-comum, cantam a duas vozes, de modo responsorial, num enquadramento que
nem é particularmente acholi pelo
tanto que dessa vivência se esboroou, acerca de paz, liberdade, pátria,
infância, solidariedade e auxílio internacional. Fazem-se acompanhar por um par
de quissanjes de maneira monótona e narcótica – nessa medida lembrando mais
práticas azande ou lango – como se estivessem
permanentemente rodeados pelo zumbir de um enxame de abelhas. Assemelham-se a pouco
daquilo que se conhece e compõem uma dramaturgia muito corrompida e ao mesmo
tempo muito cândida. Tão fugaz quão inesquecível.
Sem comentários:
Enviar um comentário