Trata-se,
à primeira vista, de uma tácita adesão de Evans ao universo da ficção
científica, através da evocação da obra de Frank Herbert, autor de “Dune”.
Publicado em 1966, esse “Destination: Void” original visava a controvérsia,
prenhe de tentações prometeicas e alertas proféticos em polémicos temas como os
da clonagem ou inteligência artificial que as suas personagens acareavam de
modo complexo e dos quais sobressiam conceitos eminentemente comparáveis: conspiração
e culpa, ética e experimentação, moralidade e mortalidade, senciência e
sociobiologia, forma e função. Mas, neste caso, conquanto dessas problemáticas comungue,
talvez se cuide antes de prevenir o ouvinte, asseverando que, por mais
extraordinário que pareça, nada disto é absolutamente imune à lógica. E ainda
que para o disco alguma coisa se tenha transferido da sensação de claustrofobia
e catástrofe iminente que se imputa a Herbert, o interesse aparenta ser outro:
propor um paradigma de sustentabilidade orgânica para o que se terá de apelidar
como jazz eletroacústico. É, assim, tão fisiológico quão ontológico, o sucessor
de “Ghosts”. É como a nave do “Alien”. E embora dependa de uma disposição de
tal maneira augural que se diria transcender a própria compreensão, nele, Evans,
Sam Pluta, Ron Stabinsky, Tom Blancarte e Jim Black tocam com tamanha exatidão
que dão mostras de tudo tornar inteligível. É um paradoxo que percorre as
criações do trompetista, aqui dado a uma congregadora visão de conjunto que o
distancia de testemunhos deixados em palcos portugueses, onde se costuma comportar
como aquele rapaz penteado de credencial ao peito que, na rua, pede uns minutos
da nossa atenção. Por ora, volta a ser um estranho numa terra estranha. Bem como
o queremos.
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