O chorrilho de distinções
institucionais dos últimos meses (prémio Artista e prémio Impacto da Fundação
Doris Duke; subsídio do New Music USA; bolsa Guggenheim; subvenção Génio da
Fundação MacArthur) elevou definitivamente a cotação de Steve Coleman, a ponto
deste “Synovial Joints” estar a ser recebido por membros da imprensa
norte-americana como um acontecimento com traços de ineditismo. Ter-lhes-á
faltado a capacidade de precisar a atividade do saxofonista durante uns anos,
só pode. Pois de outro modo não se explica o pouco que têm falado de “Genesis”,
o álbum que a BMG francesa editou em março de 1998 e que já na altura Coleman
atribuía ao The Council of Balance (há entre a formação atual e a de outrora,
aliás, dois elementos em comum: o percussionista Ramón García Pérez e o
trombonista Tim Albright). Dessa forma, por exemplo, não se espantariam com o
tanto de díspar que agora correlaciona (música improvisada, música orquestral,
tipologias de músicas tradicionais, etc), embora Coleman prefira certamente a
interpretação de que está apenas a pôr a nu aqueles nós mais profundos que sob
a superfície de todas as coisas se ocultam. Ainda não é desta que a parte mais
visível das suas criações se livra do borboto do hermetismo (o disco cruza
referências a articulações sinoviais com monofonia subsariana ou druidismo
celta com egiptologia). No entanto, talvez seja verdade, sim, que a sua
produção nunca se adequou tão bem à sua inventividade como aqui. Ou que, à
frente de uma vintena de músicos, jamais empregou semelhantes meios próprios
para provar o quão dispensa métodos alheios.
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