Mal havia Jonathan Cott atravessado
a soleira da porta e logo o maestro lhe puxava o tapete: “Aviso já que não
possuo orquestras preferidas, compositores preferidos, sinfonias preferidas,
tipos de comida preferida, formas de sexo preferido… Por isso não me faça esse
tipo de perguntas.” Estavam em Fairfield, no Connecticut, aí a uma hora de
carro a norte de Nova Iorque. Era o 20 de novembro de 1989 e um vento gelado arrastava
a noite pelos cabelos. Bernstein tinha menos de um ano de vida e talvez o
soubesse. Pelo menos havia repetido inúmeras vezes que se comportava como se assim
fosse. “Entretanto, ainda falta um par de horas para o jantar estar pronto”,
prossegue: “Importa-se que sigamos para o meu estúdio e que ouçamos uma
gravação da primeira sinfonia de Sibelius que fiz há uns 20 anos? É suposto
interpretá-la daqui a uns meses com a Filarmónica de Viena e há muito que não a
ouço”. O serão viria a ser dado à estampa como “Dinner with Lenny” e o relato
dessa sessão de escuta contém quase tudo o que se precisa de saber acerca da
relação do norte-americano com o finlandês: “Olha, miúdo! Este é o tema
rabínico… Ali é Beethoven… Tens aqui Tchaikovsky – de ‘O Lago dos Cisnes’ – e
vem já aí Borodin e Mussorgsky… Algum Grieg (mas melhor que Grieg)… E isto é Sibelius – ouve bem, isto é inconfundivelmente Sibelius.” Estava
enganado, claro. Pegando nas suas palavras, tratava-se de um Sibelius melhor do
que Sibelius. E já disso se desconfiava por alturas desta integral sinfónica,
registada entre 1961 e 1967. Agora, quando o compositor faria 150 anos,
confirma-o esta
remasterização.
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