Florian Fricke/Popol Vuh “Kailash” (Soul Jazz, 2015)
No
sopé do ‘Trono dos Deuses’, no Tibete, peregrinos de olhos avermelhados
ajoelham-se junto a pequenos retábulos e perfumam-se com incensos. Como fazia
nos filmes de Herzog, ao barro humano colando-se como um amuleto, a música de
Fricke acompanha cada ritual até se deixar de perceber quem molda o quê.
Este
CD possui uma citação de “O Profeta”, de Khalil Gibran, retirada do capítulo
‘Sobre as Casas’. Mas quem para ele parta com o Chatwin de “O Canto Nómada” em
mente também não se deverá perder pelo caminho. Pois a verdade é que, como os
escritores, Micus cartografa um espaço que conduz apenas a si.
Com
Lawrence Fields, Linda Oh e Joey Baron, Lovano e Douglas estreiam em disco
‘Destination Unknown’ e ‘To Sail Beyond the Sunset’, duas composições que, como
quem não quer a coisa, Wayne Shorter lhes enfiou debaixo do braço. Cada um dos
seus solos é uma pegada deixada na estrada que leva ao paraíso.
Começa
por ‘En la orilla del mundo’, e contrabaixista e pianista fazem como os versos
da canção, a cada passo tingindo de púrpura o seu destino. Em Tóquio, há dez
anos, transformaram o palco do Blue Note num berço, acalentando passado e
futuro. Haden guardou a gravação e quis deixá-la em testamento.
Expandindo
qualquer possibilidade nestes longos dias de estio, eis o Barenboim de “Ao
Luar”, o Michelangeli de “Imagens”, o Zimerman dos “Prelúdios”, o Pollini dos
“Estudos”, o Gilels de “Peças Líricas” ou a João Pires dos “Noturnos”. Com
pianistas assim, falar em compositores até parece despropositado.
“El Sistema 40 – A Celebration” (Deustche Grammophon,
2015)
Dir-se-ia
que tocam como se a sua vida dependesse disso, mas a verdade é que nunca
deveria ser de outra maneira. Celebrando 40 anos do sistema venezuelano de
administração da formação musical, eis o mais transformativo – Dvorák,
Ginastera, Beethoven – nas mãos da orquestra e do quarteto Simón Bolívar.
“The Bach Recordings” (L’Oiseau – Lyre, 2015)
Tal
como há quem à mesa só coma fruta da época, também houve quem, na música, apenas
tocasse com instrumentos de época. Hogwood foi um expoente da tendência – ora
retrospetiva, ora prospetiva – e os recursos de que se serviu na linhagem dos
Bach permanecem intrigantes e exemplarmente reconstitutivos.
“The Decca Sound – Mono Years (1944-1956)” (Decca,
2015)
São gravações que mantêm uma surpreendente profundidade e uma inesperada transparência. Ouvi-las é como passar uma tarde de verão em torno de um velho álbum de retratos a descobrir segredos no que se julga saber de cor: o Stravinsky de Ansermet, o Mozart de Curzon, o Bach de Fournier, o Beethoven de Gulda.
São gravações que mantêm uma surpreendente profundidade e uma inesperada transparência. Ouvi-las é como passar uma tarde de verão em torno de um velho álbum de retratos a descobrir segredos no que se julga saber de cor: o Stravinsky de Ansermet, o Mozart de Curzon, o Bach de Fournier, o Beethoven de Gulda.
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