Nascido
em Gaza, foi Al-Shafi’i, o pai da jurisprudência islâmica, que terá dito mais
ou menos assim: “Viaja para bem longe/ Gasta os sapatos e parte para novas
paragens/ Só a água corrente serve para beber/ Só o leão que persegue a presa
consegue caçar/ Só a flecha disparada do arco atinge o alvo/ Só o que acompanha
o progresso tem valor.” Como é óbvio, há 1200 anos, não contava com a criação
do Estado de Israel nem tão-pouco com territórios ocupados. Samir Joubran,
aliás, quando quis prosseguir os seus estudos, e salvo um par de exceções, não arranjava
maneira de ter o passaporte carimbado por países árabes – afinal, ainda que nazareno,
não deixava de ser cidadão israelita. “Acredito que somos nós que pertencemos
às cidades, e não as cidades que nos pertencem a nós”, disse recentemente ao
“Middle East Monitor”. E, referindo-se à decisão de Trump em transferir a
embaixada dos EUA para Jerusalém, acrescentou: “Como é então possível que surja
alguém capaz de afirmar que determinado sítio pertence a esta ou aquela gente e
a mais nenhuma outra?”
Por sinal, quando soube da notícia, o Trio Joubran – dos
irmãos Samir, Adnan e Wissam – sentiu que teria de “sacrificar um dos temas do
álbum”, porventura aquele construído em torno da leitura que Mahmoud Darwish
havia feito antes de falecer de “O Penúltimo Discurso do Pele Vermelha ao Homem
Branco”. E, em inglês, com alguém que face às políticas de Israel usasse as
redes sociais como outros usam pedras da calçada – foi assim que em março do
ano passado surgiu no YouTube ‘Supremacy’, com Roger Waters a declamar as
palavras que Darwish um dia imaginou a sair da boca do Chefe Seattle sem que
ninguém aparecesse a comentar: #redface.
Agora, em “The Long March”, revelam o take
original, em árabe, e Waters participa no elegíaco ‘Carry the Earth’. Isto, a
par do sempre fascinante dédalo desenhado pelos seus três alaúdes, é do pouco
que joga a favor do disco, resumindo-se o resto a uma aguarela desbotada de música
eletrónica orientalista que poderá ter origem no quanto Renaud Letang, o
produtor, admira o Jean-Michel Jarre de ‘Orient Express’. Edward Said deu voltas
no caixão.
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