Não será
necessário dar um mergulho nas escrituras. Afinal, há uma classificação
científica para fenómenos desta natureza: precisamente o táxon Lázaro, que se
verifica quando certas espécies já consideradas extintas reaparecem. Agora, diz
a Habibi Funk, à custa da reedição deste seu LP de 1980, são os membros dos sudaneses
Scorpions que voltam à vida, reunindo-se no verão passado em Cartum, ao fim de
quase 40 anos sem nada saberem uns dos outros – por mais peças que lhes dedique
o “Al-Sudani”, hoje, para ressuscitar um morto, nada como um artigo na
“Monocle”! Infelizmente saiu-lhes nas cartas reagruparem-se para serem
novamente incompreendidos – é que não há quem pegue neste extraordinário “Jazz,
Jazz, Jazz” (e a capa original tem sete vezes escrita a palavra jazz, uma para
cada voltinha à Caaba, presume-se) sem se sentir na obrigação de explicar que o
título é “algo equivocado” (in “Record
Collector”). Imagina-se que isto é gente que nunca conversou com Mulatu
Astatke, por exemplo, outro ressurreto da nossa era. Por cá, há coisa de 10
anos, quando lhe perguntei se ‘Yekermo Sew’, o seu tema mais popular, era uma
versão de ‘Song for my Father’, de Horace Silver, o compositor etíope riu-se e respondeu
assim: “Mas todo o jazz não é já africano? Eu limitei-me a adaptá-lo às nossas
cinco notas e a um dos nossos quatro modos. Sabe, aquilo que lhe parece um
ritmo latino, nessa música, vem na realidade do sul da Etiópia. Vá até lá que
ouve mambo, chachachá… Até bossa nova. Além das escalas que o Charlie Parker
usou no bebop. Se reparar bem, mesmo um compositor como Debussy recorreu à
escala diminuta da música copta, muito usada por tribos etíopes.” Bom, estes seus
vizinhos não diriam tanto. Mas é verdade que pegam num elemento do jazz e da
soul aqui, noutro do funk acolá, e os vão torcendo aos poucos e entrelaçando
uns nos outros até deles fazerem um ninho – ao jeito das cegonhas. Praticamente
heresia, no Sudão atual! Nem que fosse apenas por isso, já valia a pena
ouvi-los.
Sem comentários:
Enviar um comentário