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Aliás, Lloyd visita
a biografia como quem dá conta de uma inevitabilidade: “Phineas Newborn Jr. era
o nosso Bach”, “Duke, Basie ou Dinah, quando era pequeno, costumavam hospedar-se
em minha casa, e eu, de manhã, ficava à espera que se levantassem, cheio de
perguntas para lhes fazer”, “adquiri experiência ao lado de Howlin’ Wolf, B. B.
King ou Bobby Bland”, diz, e não se percebe se está a referir-se àquilo que se
aprende na escola, na igreja ou ao que se fica a saber apenas quando às duas se
falta. Ou invoca intervenções do destino: “Em finais de 50 fui para Manhattan como
se vai a Meca e arranjei quarto no Alvin, defronte do Birdland. Dou de caras
com o Booker Little, que tinha sido meu colega de liceu, e ele pergunta-me: ‘Onde
é que estás a ficar?’ Respondi-lhe que estava na maior, num hotel, e ele
disse-me: ‘Isso é que não, vens comigo para minha casa. Não estás aqui para
viver na maior, mas sim para trabalhar no teu caráter.’ Ele tinha 21 anos e uma
alma perfeitamente realizada.”
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Claro que a
etapa que se lhe seguiu, a do quarteto com Keith Jarrett, Cecil McBee e Jack
DeJohnette, é que dá mostras, essa sim, de estar no jazz apenas pela capacidade
que o jazz tem de se revelar um instrumento universal. Há no DVD um clipe em
que não se imagina um grupo a poder dar mais de si, até que, em simultâneo,
Lloyd dá uns passos para o lado para se alinhar novamente com o microfone,
Jarrett centra o banco do piano, DeJohnette corrige a posição da tarola e McBee
levanta a cabeça das cordas do contrabaixo olhando à sua volta para ver onde
está, como se estivessem todos subitamente de volta à mesma dimensão. Mas, está
escrito, tudo se extinguiu e ao documentário resta remexer nas cinzas. Com
candura, Lloyd fala das décadas de 70 e 80 como uma criança que descobre que é preciso
aceitar a tristeza para se sentir a alegria. Dos últimos 25 anos de gravações
para a ECM há muitas imagens mas pouco mais se descobre do que isto: cada
ocorrência é uma bênção e só o momento atual interessa porque, lá está, o que
aqui começa pode bem durar até à eternidade.
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