Música erudita: Jordi Savall afirmou recentemente
que “sem memória não há justiça”. Agora, como um inequívoco veículo para as
suas convicções, anuncia um ambicioso “Guerra & Paz” em que revê a história
militar europeia dos séculos XVII e XVIII. Não seria potencialmente tão
interessante se não estivesse tão nitidamente marcado pelas incertas pulsões do
seu ideólogo, mas trata-se ainda assim de um dos mais aguardados lançamentos de
um começo de ano em que se destacam: “1865”, de um Anonymous 4 às voltas com a
Guerra da Secessão; o “Rappresentatione di Anima, et di Corpo”, de Emilio de’
Cavalieri, por René Jacobs; um par de caixas de Richter (faria 100 anos) e outra
dedicada a Boulez (haja saúde fará 90 em março); o “Requiem” de Dvorák dirigido
por Herreweghe; um recital de Lubimov consagrado a Ives, Berg e Webern. Em
palco, relevo para quem concilia presteza dramática e poder reivindicativo: Benjamin
Grosvenor (8/02), Midori (21/03) e Volodos (24/05) na Casa da Música; Schiff na
Gulbenkian (8/02 e 24/03). Do frio, os tricinquentenários de Sibelius e Nielsen
a congelar os de Dukas, Magnard ou Glazunov.
Música do Mundo: Até ao verão, e aos festivais, é
época baixa. E, neste domínio, só Lisboa escapa à absoluta hibernação dando-se
um jogo de ténis de mesa entre duas instituições locais: Kayhan Kalhor e Erdal
Erzincan vão à Gulbenkian (02/02); Toumani e Sidiki Diabaté conduzem à
Culturgest (06/02) aquela carga emocional que no Mali se transporta de geração
em geração; Zé Miguel Wisnik e Lívia e Arthur Nestrovski levam leituras
agógicas e pedagógicas do cancioneiro brasileiro à Gulbenkian (20/02), onde,
logo de seguida, entre fevereiro e março, com Calcanhotto, se manterá o sotaque
mas elevará o grau de pretensão; de Marrocos, Driss El Maloumi na Culturgest
(13/03) e, vindo da Tunísia, Anouar Brahem na Gulbenkian (28/04). Pelas lojas,
não será a inundação de Rough Guides a contrariar a seca nos escaparates.
Jazz: Só com as novidades de janeiro já a
ECM tomou conta do trimestre: estreiam-se na editora a orquestra de Chris
Potter e o trio de Vijay Iyer, celebra-se Kenny Wheeler com o póstumo “Songs
for Quintet” e um quinteto de luxo liderado por Jack DeJohnette assinala os 50
anos da AACM. Da ACT virá “Bird Calls”, de Rudresh Mahanthappa; da Soul Jazz, a
reedição de “Tanner Suite”, de Lloyd McNeill; da Clean Feed, discos de Chris
Lightcap, Mario Pavone e Eve Risser. Ao vivo, antes dos festivais: Steve Lehman
no Porto (Casa da Música, 01/02); Michael Formanek em Lisboa (Culturgest,
19/03) e em Portalegre (CAEP, 20/03); Nate Wooley no Porto (Culturgest, 26/03);
Joe McPhee em Lisboa (Culturgest, 9/04) e Anthony Braxton na Casa da Música
(25/04). E, sim, é ano de centenário de Billie Holiday, em que milhares de
cantoras com tumultuosa relação com o feminismo tratarão de assassinar ‘Lover
Man’, ‘My Man’ ou ‘The Man I Love’. Por enquanto, à exceção de “Coming Forth By
Day”, de Cassandra Wilson, e uma nova biografia da autoria de John Szwed, nada
de especial se anuncia, mas espera-se a devida reorganização de catálogo. Também
Billy Strayhorn faria 100 anos, mas a esse não é preciso dar nada: Lady Gaga (na foto)
tratou-lhe da prenda quando cantou ‘Lush Life’.
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